Ensino Básico

Como acolher os alunos com autismo

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O Brasil tem 105.842 crianças com algum tipo de transtorno mental matriculadas em classes comuns, segundo o censo escolar de 2018. O número de alunos autistas é indefinido, mas uma coisa é certa: criar uma escola acolhedora para crianças com autismo exige dedicação de toda comunidade escolar.

Qualquer aluno possui características próprias, assim como capacidades e dificuldades singulares. Com os estudantes com transtorno do espectro autista (TEA) não é diferente. Cabe à escola respeitar e acolher esses alunos da melhor forma possível.

A falta de informação e de profissionais treinados, no entanto, ainda é um problema dentro da sala da aula.

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Série Atypical da Netflix mostra o cotidiano de um estudante com autismo. Créditos: Divulgação.

Série Atypical da Netflix mostra o cotidiano de um estudante com autismo. Créditos: Divulgação.

Diante desse cenário, a psicopedagoga Érica Rezende Barbiere decidiu utilizar sua experiência como mãe de crianças com TEA para ajudar as escolas da sua cidade a terem uma cultura acolhedora com os seus alunos autistas.

O Projeto Autismo na Escola foi iniciado em fevereiro de 2017 em Rondonópolis (Mato Grosso) e já conseguiu alcançar as escolas com alunos autistas da cidade, além de municípios e estados próximos. O projeto inclui palestras, distribuição de cartilhas educativas e dinâmicas em grupo. Até a chegada da pandemia, as atividades eram realizadas presencialmente com educadores e estudantes.

Além de levar informação sobre o espectro autista, o projeto ensina como professores e alunos devem se comportar diante de situações delicadas. O projeto também disponibiliza o material usado nas dinâmicas, para que os participantes possam multiplicar a ideia em outras ocasiões.

Outra pesquisa, feita por aluna de mestrado na USP, evidenciou também o potencial do uso da gamificação e da psicologia na alfabetização de crianças diagnosticadas com TEA.

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Educação de alunos autistas na prática

O Ministério da Educação – baseado na Constituição de 1988, que estabelece o direito de todos à educação –, regulamentou em 2008 o atendimento educacional especializado, que atende alunos com algum impedimento físico, intelectual, mental ou sensorial, alunos com transtornos globais no desenvolvimento e alunos com altas habilidades.

Crianças autistas devem ser matriculadas no ensino regular. As escolas devem oferecer atendimento especializado, proporcionando o acesso e as condições adequadas para uma educação de qualidade. O professor com aluno com TEA em sala de aula tem direito, por lei, a um atendimento nesse nível.

Esse atendimento complementa a formação dos estudantes da classe, além de identificar e elaborar recursos pedagógicos e de acessibilidade, considerando as necessidades específicas do aluno com TEA.

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Na Escola Estadual Maestro Antonio Mármora Filho, em Mogi das Cruzes (SP), uma professora que atua no atendimento especializado pela secretaria estadual de educação de São Paulo (SEESP) iniciou em 2018 o acompanhamento com um aluno de 14 anos com TEA.

A professora articulou o conteúdo curricular do aluno com diferentes estratégicas, como jogos, animações, simuladores, infográficos e atividades realizadas com materiais construído pelo próprio estudante. A proposta pedagógica foi incentivar o trabalho da escrita, leitura e raciocínio lógico matemático.

Desde o início do acompanhamento, a aprendizagem e o desenvolvimento do aluno apresentaram melhorias, principalmente na sua comunicação escrita e oral. Além disso, sua interação com a comunidades escolar foi ampliada. Agora, ele consegue participar de eventos e excursões escolares sem a presença dos pais.

Criar uma relação de confiança com a criança, estimular os seus pontos fortes, manter contato direto e buscar o apoio da instituição e dos pais são alguns dos pontos importantes no momento de desenvolver uma cultura acolhedora para os alunos autistas.

Leia mais: 3 dicas para facilitar o desenvolvimento de estudantes com autismo

A série Atypical, disponível na Netflix, também pode oferecer várias dicas importantes sobre o trabalho de inclusão com adolescentes portadores do TEA. A ficção conta a história de uma garoto autista em seu último ano do colegial e aborda temas como preconceito e inclusão.

Vila Sesámo, clássico infantil, retrata espectro autista desde 2017. Crédito: divulgação.

No clássico programa infantil Vila Sésamo, no ar desde 1972, uma personagem autista está em suas histórias há três anos. Julia é uma menina de 4 anos. Uma de suas criadoras é Leslie Kimmelman, que usou a própria experiência como mãe de uma criança autista para montar a personagem.

Segundo a newsletter MaterNews, uma das principais preocupações dos criadores é mostrar que Julia, como outras crianças com TEA, tem seu jeito específico de ser e de manifestar o transtorno. A iniciativa é parte do projeto See Amazing In All Children, por enquanto disponível apenas em inglês.

E assim, aos poucos, a comunidade autista vai ganhando representatividade. E conquistando os direitos básicos. A conquista mais recente é a criação da carteira de identificação da pessoa com transtorno do espectro autistaciptea), criada por lei federal em janeiro de 2020.

A carteira garante atenção integral, pronto atendimento e prioridade de atendimento em serviços públicos e privados, principalmente nas áreas de saúde, educação e assistência social. Além disso, a carteira promove o acesso à informação, que é a maior barreira existente no processo de inclusão de crianças com TEA, dentro e fora da escola.

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Redação Pátio
A redação da Pátio – Revista Pedagógica é formada por jornalistas do portal Desafios da Educação e educadores das áreas de ensino infantil, fundamental e médio.

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