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Gustavo Hoffmann analisa flexibilização da EAD durante pandemia

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Você também pode ouvir o conteúdo deste artigo no podcast “Desafios da Educação”.


Com a crise provocada pelo avanço do coronavírus, o Ministério da Educação (MEC) decidiu autorizar em caráter excepcional e temporária a substituição das disciplinas presenciais, que estão em andamento, por aulas a distância nas IES públicas e privadas.

O MEC publicou a Portaria nº 343 em 18 de março, quarta-feira. A norma permite a mudança de forma imediata. A medida tem duração de 30 dias prorrogáveis, a depender das diretrizes do Ministério da Saúde.

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Como na Portaria 2.117/2019, que permite ampliar de 20% para até 40% a carga horária de educação a distância em todos os cursos presenciais, a resolução n° 343 vetava a flexibilização em cursos de Medicina. Isso até quinta-feira, 19 de março, quando a nova portaria 345 autorizou a substituição também para “disciplinas teóricas-cognitivas do primeiro ao quarto ano do curso” de Medicina.

De acordo com a nova legislação, é de total responsabilidade das IES a definição das disciplinas que serão substituídas, a disponibilização de ferramentas para os alunos e o modo de avaliação durante o período.

Substituição de aulas presenciais por aulas a distância se torna resposta à crise de coronavírus. Crédito: Pexels.

A mudança não é obrigatória. Quem não migrar para a EAD pode suspender as aulas, mas deve as repor integralmente em outro momento – podendo, assim, alterar o calendário de férias. Nesse caso, aconselha-se à IES que procure o sindicato dos professores de seu estado, para evitar eventuais divergências trabalhistas.

Por isso, mudar para a EAD é a melhor solução no momento.

Sempre recomendo que as instituições substituem as suas aulas presenciais por ensino a distância. Já existe conteúdo digital, plataformas de encontros sincrônicos e ambientes virtuais de aprendizagem de qualidade. Não tem por que prejudicar o ensino dos alunos e todo o calendário acadêmico.

As que optarem pela portaria nº 343, e substituir as aulas presenciais por EAD, devem comunicar ao Ministério da Educação em um período de até 15 dias. A forma de fazer essa comunicação é abrindo uma demanda no e-MEC. Se o portal não disponibilizar a ferramenta necessária, a instituição de ensino poderá comunicar a decisão através de um ofício.

O que fazer (e não fazer) na EAD

Vai seguir a portaria nº 343 e suspender aulas presenciais? Do ponto de vista estratégico, recomendo que as instituições busquem substituir os encontros presenciais por algo que cientificamente já funcione.

Não é simplesmente utilizar a apresentação em Power Point dos professores, colocar no ambiente virtual de aprendizagem (AVA ou LMS, na sigla em inglês) e dizer que isso substitui as aulas presenciais.

As escolas devem pensar em um design instrucional, numa forma de aprendizagem, que mesmo sendo 100% online possa ser o mais parecido com os encontros presenciais. Parte do processo deveria ser feito em momentos sincrônicos, onde professores e alunos possam estar reunidos ao mesmo tempo, como as webconferências.

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Existe, no entanto, tecnologia disponível para fazer mais do que uma simples webconferência. As ferramentas mais modernas possuem recursos onde o professor consegue dividir a turma em pequenos grupos, como em uma sala de aula presencial, reproduzindo assim uma metodologia ativa de aprendizagem – normalmente feita em momentos presenciais – dentro do AVA.

Não dá para pedir para os alunos se conectarem com os professores todos dias por quatro horas, por exemplo. Mesmo com metodologias ativas, um professor não consegue segurar um aluno online durante tanto tempo.

É necessário restringir esse tempo de conectividade, principalmente pela limitação do acesso à internet em alguns lugares do Brasil – que já demonstra um padrão de consumo alterado devido à pandemia do coronavírus, segundo especialistas.

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Outra necessidade é que os momentos síncronos sejam gravados e depois disponibilizados para aqueles que não puderam assistir ou tiveram falha de conexão.

Os professores devem postar os conteúdos na plataforma de ensino, para que os alunos consigam adapta-los ao seu ritmo. Assim, os encontros simultâneos se tornam mais uma forma de interação e revisão do assunto.

Quais conteúdos disponibilizar?

  • Links de vídeos de sites públicos (Youtube e Vimeo, por exemplo);
  • Links para websites públicos e gratuitos;
  • Apresentações em Power Point;
  • Arquivos científicos.

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Uma última questão (muito importante): a carga horária da disciplina. Muitos professores disponibilizam conteúdos e atividades muito superiores ao que os estudantes se dedicariam presencialmente.

É preciso ter cuidado com o dimensionamento das atividades realizadas a distância. Disciplina que possui carga horária de quatro horas semanais precisa ter conteúdo online correspondente a essas quatro horas.

Leia mais: Como estudar a distância em tempos de Covid-19? Aqui estão 5 dicas para os alunos

Gustavo Hoffmann
Gustavo Hoffmann é diretor do Grupo A, membro do projeto SAGAH e do conselho editorial do portal Desafios da Educação, onde escreve mensalmente.

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    3 Comments

    1. Oi, Gustavo!
      Gostei de suas indicações para as IE implementarem em seus planejamentos. Creio que o mais difícil é sempre as IE públicas. Contudo, como a situação da covid-19 é algo novo para todos nós, teremos de aprender com as tentativas e erros. No entanto, creio no que disse sobre o nosso “know-how” para a aplicação do EAD. Temos sim já profissionais bem preparados e outros nem tanto, mas que, para o momento, conseguiriam dar conta do recado. Torço por vocês!
      Sérgio Nunes – Recife/PE

      1. Eu vejo reclamações de alunos em todo o país de que suas faculdades mesmo sem pandemia tem feito o seguinte ( alunos de curso da saúde ) . Os alunos chegam na sala de aula e se deparam com um laboratório de informática no lugar de um laboratório de anatomia , por exemplo, e os professores não explicam as matérias ( clínicas ) mandam os alunos pesquisarem tudo na internet . Alunos reclamam que tem passado bem menos tempo nas salas de aula . Estão formando os chamados ‘ doutores Google ‘ . Imagine vc formar um dentista que pesquisou no Google ‘ como arrancar um dente ‘ e nunca teve aulas práticas em laboratórios sob supervisão de professores . Tem faculdades por aí chamando isso de metodologia ativa . Se vc é realmente uma pessoa compromissada com ensino deve lutar contra este tipo de absurdo! Eu não quero morrer nas mãos de um profissional formado desse jeito . Matérias de pesquisa ( como faz um artigo científico ) podem e devem usar o computador para todas as matérias clínicas não se deve usar computador . Respeitemos a saúde da população . Obrigada .

    2. Esse negócio de faculdade presencial em cursos da área da saúde, mesmo sem pandemia, mandarem os alunos irem pra sala de aula, aprender no computador da faculdade e mandar os professores deixarem de dar aula, chamando tudo isso de metodologia ativa não dá . Tenho visto reclamações no país todo de alunos da saúde dizendo que as faculdades tem diminuído significativamente o tempo que os alunos passam em sala de aula e tem usado de forma abusiva as tecnologias de informação. Me preocupa a formação de alunos chamados ‘ doutores Google’ professores não explicam matéria e mandam o aluno buscar no Google acadêmico ( clínica não se ensina através do Google ) . Respeitar a saúde da população brasileira sempre . Obrigada .

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