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Chatbots na educação: um novo jeito de aprender e ensinar

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Chatbot Téo em conversação com alunos interessados em saber detalhes sobre carreiras antes de escolher o curso. A conversa acontece via Messenger, no Facebook.

Sócrates, o filósofo grego, dizia que o aprendizado provém do diálogo. A novidade é que hoje, 2.300 mil anos depois, a interação não ocorre só entre um humano e outro. Também acontece entre humano e chatbots – como são chamados os serviços de atendimento virtual desenvolvidos a partir de computação cognitiva e inteligência artificial.

É o caso de Téo, o chatbot de educação adquirido no ano passado pela Estácio, um dos maiores grupos de ensino superior do país. Téo conversa com os estudantes pela página de um programa de carreiras da universidade no Facebook. Pelo serviço de mensagens, os discentes indicam suas habilidades e interesses profissionais, bem como hobbys e preferências pessoais.

A partir da análise dessas informações, o sistema de computação cognitiva estima as profissões mais compatíveis com o perfil do aluno. Cabe a Téo as indicar. Em dez meses de operação, o robô fez mais de 7 mil atendimentos. Tornou-se um sucesso entre os alunos – substituindo, muitas vezes, os velhos testes de vocação.

“Num questionário tradicional, se eu indicar que gosto de estudar, tenho disciplina e adoro biologia, essas características me levarão à medicina, sem considerar os outros aspectos da minha vida”, critica Fernando Gouvêa, cofundador da Outra Coisa, empresa especializada em chatbot de educação e criadora de Téo.

Identificar vozes, rostos e predileções por meio de interações fez com que os chatbots chegassem a uma nova fronteira do atendimento digital. Isso porque além de toda inteligência instalada, os robôs são ágeis, baratos e eficientes.

Não à toa, um crescente número de empresas tem adotado a janelinha que surge no canto da tela quando você entra num site de compra ou de serviços. Pelo menos metade de todas as médias e grandes empresas utilizarão chatbots de produtos até 2020, de acordo com o Gartner.

A previsão, segundo a consultoria Grand View Research, é que esse mercado chegue a US$ 1,25 bilhão em receita global em 2025, com uma taxa de crescimento médio anual de 24,3%.

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Uso de chatbots na educação

Professora Elektra foi um dos primeiros chatbots na educação brasileira. Desenvolvido em 2002, por pesquisadores da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), o tutor virtual auxilia o aprendizado de estudantes em cursos a distância. No ar até hoje, o sistema foi inspirado no primeiro robô educacional do mundo, Alice, criado na Lehigh University, em 1995.

Tanto os bots pioneiros quanto os atuais utilizam inteligência artificial (AI, na sigla em inglês) e machine learning – área da ciência que desenvolve o autoaprendizado das máquinas.

Antes de entrar em cena, o robô é treinado de acordo com sua função – responder, calcular, conversar, jogar. Isso acontece mediante a exposição do sistema a informações e comandos pré-determinados. É assim, formando um grande banco de dados, que o robô adquire o conhecimento para pensar e ensinar. O processo costuma durar de dois a três meses.

Além do papel de conselheiro profissional, os chatbots na educação são utilizados principalmente como tutores. Os sistemas ensinam através de simulações, testes e games. Também fazem treinamentos de onboarding, conduzindo a navegação de alunos e professores na apresentação de cursos e de disciplinas inteiras.

O mais famoso deles é o Watson. Desenvolvido pela IBM, o chatbot prioriza a aprendizagem personalizada do aluno através da conversação. Dessa forma, o sistema acompanha o progresso do estudante e oferece o conteúdo mais ideal – vídeos, fotos, textos. Tudo com base nas preferências do usuário.

A ferramenta ainda conta com uma versão exclusiva aos docentes. É o IBM Watson Enlight (na foto abaixo), utilizado para execução e planejamento de aulas. No início do ano letivo, o Watson disponibiliza informações sobre a turma e, ao longo do semestre, apresenta insights sobre o desempenho dos discentes. Ele ainda oferece suporte de aprendizado, realizando treinamentos para os profissionais.

Apesar do caráter instrucional, é importante lembrar que os robôs não substituem o professor. “Os chatbots na educação são para complementar a aula, não são um fim em si mesmo”, diz Gouvêa, da Outra coisa – que, além do robô da Estácio, também desenvolveu o G1 Enem, de perguntas para a prova, e o Tecnomagia, sobre transformações digitais.

Na sala de aula, o chatbot é visto como auxílio-extra ao professor. Mesmo que o docente tenha encerrado o aprendizado de uma matéria, o aluno com dificuldade pode usar o sistema inteligente e estuda-la pelo tempo que precisar. O mecanismo deixa os estudantes mais à vontade, inclusive porque eles tendem a ter menos vergonha de errar na frente de um robô. É o caso do Duolingo, aplicativo pioneiro para o aprendizado de idiomas por meio de conversação.

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Gestão eficiente – e mais barata

O uso de chatbots na educação também é indicado para soluções administrativas.

Na Anhanguera, o objetivo de Julia é reduzir o deslocamento dos alunos às secretarias. “O robô ajuda no relacionamento entre instituição e aluno, diminuindo filas para tirar dúvidas e informações simples, como acessar o portal do aluno ou imprimir um boleto” explica Diego Theodoro, da diretoria de Gestão de alunos da Kroton, responsável pela marca Anhanguera.

Segundo Theodoro, a vantagem do robô é ter um ambiente ágil, seguro e que garante informação efetiva para os alunos. Faz sentido. Afinal, o sistema não tem restrições de distância ou horário, podendo fazer atendimento em larga escala.

“É como um colaborador que pode ser treinado para várias tarefas”, afirma Marildo Matta, diretor de Inteligência Artificial da Plusoft, desenvolvedora da solução. “Temos chatbots como a Julia vendendo produtos, acompanhando campanhas de marketing, fazendo cobranças, além atuarem nos setores de telefonia, beleza e saúde.”

No caso das cobranças, os chatbots costumam ser mais eficientes, pois geram menos constrangimento e fazem com que os clientes aceitem melhor as propostas. E, mesmo com o investimento aparentemente alto na contratação do produto, o custo operacional acaba sendo reduzido no médio e longo prazo.

Um assistente virtual da Plusoft, por exemplo, tem custo unitário de R$ 1,35 por atendimento, podendo diminuir conforme a quantidade de acessos. Bancar o mesmo suporte com uma pessoa destacada no telemarketing pode custar quatro vezes mais.

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