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Desde que surgiram os primeiros casos de Covid-19, a doença causada pelo novo coronavírus, a China provocou uma verdadeira revolução na educação.

Milhares de escolas e universidades fecharam as portas ainda em janeiro. Algumas ensaiaram uma reabertura em março, quando o pico da doença supostamente havia passado, mas o surgimento de novos infectados fez o governo recuar. A quarentena chinesa deve perdurar por mais algumas semanas – ou meses.

O fechamento das escolas, no entanto, não significou a paralisação das atividades. Parem as aulas, mas não parem de aprender, é o lema do governo. O que os chineses adotaram foi um modelo de ensino a distância em larga escala, sem precedentes, alcançando mais de 240 milhões de crianças e jovens.

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O plano, ambicioso, foi posto em prática em fevereiro. Foi quando o governo da China anunciou a criação de uma plataforma virtual de educação que oferece conteúdos e recursos em áreas como prevenção do coronavírus, disciplinas curriculares, filmes e jogos.

Sejam do ensino básico ou do ensino superior, os chineses em quarentena recebem tutoria online. As aulas de matemática, chinês, inglês, arte e educação física, por exemplo, são transmitidas pelos canais estatais de televisão. Um site do governo divulga o calendário semanal de aulas, que começam cedo da manhã e vão até a noite. As informações são da revista Exame.

Estudante chinesa em casa; muito antes do coronavírus a China já se preparava para o ensino online. Crédito: Pexels.

Estudante chinesa em casa: muito antes do coronavírus, a China já se preparava para o ensino online. Crédito: Pexels.

Além disso, o país colocou à disposição mais de 24 mil cursos gratuitos de ensino técnico e superior em plataformas virtuais.

A radicalização do ensino a distância não ocorreu só na China. Em resposta à pandemia do novo coronavírus, dezenas de países tentam adaptar as aulas virtualmente como forma de garantir a aprendizagem. A diferença é que os chineses já estavam a caminho desse novo jeito de ensinar e de aprender.

Muitos antes dos primeiros casos de coronavírus, surgidos em dezembro do ano passado, a China já investia pesado em educação. Não à toa, regiões específicas do país chegaram ao topo do ranking do PISA, o Programa Internacional de Avaliação de Estudantes.

Leia mais: Quando as aulas voltarem eu não quero que tenha “aula”

A região compreendendo Pequim, Xangai, Jiangsu e Guangdong (chamada de P-X-J-G pela OCDE, organizadora do PISA) ficou em primeiro lugar nas provas de ciências, leitura e matemática. Macau e o território semiautônomo de Hong Kong também registraram bom desempenho nas avaliações, assim como Taipei.

Elaborado a cada três anos com estudantes de 15 anos de idade de 79 países ou economias, o PISA é organizado em notas que vão de 0 a 600. A última pesquisa foi divulgada em dezembro de 2019. (Confira, abaixo, o ranking geral do PISA.)

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Para estar entre os melhores desempenhos do mundo em educação, a China investe pesado em soluções digitais. A competição entre os alunos para conseguirem vaga nas melhores escolas, e consequentemente nas melhores universidades, permitiu o crescimento da indústria do reforço escolar.

Edtechs como a Squirrel Al começaram a criar modelos completamente online ou híbridos. O conteúdo que antes era restrito a quem podia pagar por um professor particular em aulas presenciais, agora está ao alcance de um número crescente de alunos virtuais.

Com sede em Xangai, a Squirrel Al criou uma tecnologia que divide o conteúdo de cada disciplina em milhares de subitens. A matemática do ensino médio, por exemplo, é dividida em mais de 10 mil tópicos, chamados de pontos de aprendizado.

Na plataforma online, os algoritmos de inteligência artificial criados pela startup conseguem, com base no tempo que o aluno leva para responder uma pergunta, identificar o que ele sabe mais ou menos. Por causa do Covid-19, os 200 mil alunos da Squirrel passaram a ter as suas aulas integralmente pela internet.

Leia mais: Inteligência artificial promove ensino personalizado

Segundo dados da Unesco, mais de 1,5 bilhão de crianças e jovens em todo o mundo tiveram aulas afetadas. Nos Estados Unidos, estima-se que 76,5 milhões de estudantes terão algum tipo de aprendizagem a distância.

As instituições de ensino estão sendo obrigadas a investir em ferramentas de ensino online e obviamente, elas não jogarão os seus investimentos no lixo. É o que disse o professor de educação digital na Universidade Stanford, Mitchell Stevens, à revista Exame.

Depois que essa calamidade passar, as escolas e universidades não vão simplesmente guardar numa prateleira os investimentos que fizeram durante a crise. A educação digital vai avançar rapidamente depois da Covid-19.

E o Brasil?

Bem, no Brasil não será diferente. O fechamento das instituições de ensino, devido à pandemia, também acelerou a adoção de metodologias e ferramentas digitais. Centenas de escolas e faculdades passaram a usar os ambientes virtuais para garantir a aprendizagem dos alunos. É um legado que tende a ficar.

O sucesso desse modelo, no entanto, será muito maior nas redes particulares. Boa parte dos alunos de instituições públicas, infelizmente, precisará recuperar as aulas quando as atividades presenciais foram retomadas. Até lá, os tomadores de decisão poderiam se inspirar no exemplo que vem da China – onde as aulas param, mas a aprendizagem não.

Leia mais: Coronavírus: Brasil está preparado para o estudo remoto?

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1 Comment

  1. Poderiam se esforçar para fazer isso aqui…
    Especialista em Bolsa Maternidade, Sao Paulo – SP

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