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Fagner de Deus: indicadores de gestão são diferenciais para IES

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Fagner de Deus defende o uso de recursos tecnológicos, avaliação constante e indicadores de gestão para o crescimento das instituições de ensino

Fagner de Deus defende o uso de tecnologia e indicadores de gestão. Crédito: reprodução.

Fagner de Deus tem sólida experiência em tecnologia, ensino e gestão empresarial. Dos seus 37 anos, quase 20 foram dedicados ao Centro Universitário de Patos de Minas, a Unipam, no interior mineiro. Primeiro como aluno: graduou-se em Administração e, ao fim do curso, fez uma especialização em Gestão Empresarial. Posteriormente, Fagner se tornou professor da instituição. Seu desempenho foi tamanho que, em 2010, foi convidado a assumir como pró-reitor de Ensino, Pesquisa e Extensão da Unipam.

Na pró-reitoria, percebeu que a IES precisava de mudanças e evitar uma crise mais adiante. O Índice Geral de Cursos (IGC) da Unipam era baixo. Mas a partir da integração entre coordenação e sala de aula, Fagner implementou inovadores indicadores de gestão. E modificou, assim, as estruturas de avaliação e aprendizagem da Unipam. Como resultado, a instituição duplicou o quadro de alunos e alcançou o IGC 4. E voltou a dar lucro.

Em 2018, Fagner assumiu a diretoria de Tecnologias Educacionais do Grupo A Educação. Na entrevista a seguir, ele conta um pouco da sua trajetória e adianta parte da apresentação que fará no Fórum de Lideranças: Desafios da Educação 2018, que acontece no dia 17 de maio, no Centro Universitário Ítalo Brasileiro, em São Paulo (SP). O evento é gratuito e as vagas são limitadas. Inscreva-se aqui.

Qual tema você pretende abordar no Fórum de Lideranças: Desafios da Educação 2018?
Pretendo falar da experiência que vivenciei em gestão de IES. Apesar das diferenças territoriais, será interessante ver como todas as instituições possuem desafios semelhantes. Isso ocorre porque o país tem as mesmas deficiências estruturais, desde o ensino básico até a educação superior. Porém, quero demonstrar como bons indicadores de gestão e de avaliação contribuem para a melhoria contínua. As pessoas agem diferente quando sabem que estão sendo avaliadas. Não ficam só no discurso: elas colocam a mudança em prática. Isso serve para qualquer gestor e para qualquer IES.

A implementação de indicadores de gestão e avaliação foi uma marca da sua gestão na Unipam.
É que em 2009 a Unipam teve um prejuízo superior a meio milhão de reais. Além disso, os resultados acadêmicos não eram satisfatórios. Apesar da tradição do centro universitário, as notas de avaliações institucionais e do Enade (Exame Nacional de Desempenho de Estudantes) estavam bem abaixo da média nacional. No ano seguinte, quando passei ao cargo de pró-reitor, iniciamos um novo modelo de gestão. Esse modelo tem base na avaliação e no acompanhamento de resultados de professores e alunos. É um formato que nos forneceu uma visão de gerenciamento global da área acadêmica, com base em indicadores de entrega de aprendizagem e de qualidade percebida.

No que consistem os indicadores de entrega?
Além dos exames tradicionais, como provas e trabalhos, os alunos também são avaliados pela instituição. Ou seja, 80% da nota é atribuída pelo professor e 20% fica a cargo da IES. Ao final de cada semestre, o desempenho dos estudantes em cada uma dessas avaliações é analisado. Com base nesses feedbacks, o coordenador tem instrumentos para atuar de forma adequada com os professores e com os alunos. Isso permite, por exemplo, reconhecer um eventual problema na abordagem do educador – e, caso haja, descobre-se qual é e onde ele está. Geralmente são coisas pequenas, mas que geram baixo desempenho, como aplicação da mesma prova durante vários semestres ou falta de critérios para avaliação de trabalhos.

Leia mais: Os métodos de avaliação na Educação 4.0

Quais foram os resultados promovidos por esses indicadores?
A ferramenta profissionalizou os processos avaliativos. Ganhamos governança em sala de aula sem tirar a liberdade do professor, ajustando a metodologia ao criar avaliações mais justas. O aluno passou a ter confiança na qualidade do ensino e também percebeu a necessidade de se esforçar, comprometer-se em chegar no horário e cumprir o cronograma de atividades. Do outro lado, o professor passou a seguir com mais eficiência o plano de ensino, mas ainda com autonomia para usar os métodos que preferir.

Fagner de Deus atuou por quase 20 anos na Unipam. Crédito: divulgação.

A Unipam usou o NPS, um indicador de gestão de qualidade percebida. Pode explicar seu funcionamento?
O indicador de qualidade percebida [NPS, na sigla em inglês] é bastante utilizado para medir a imagem de empresas. Mudamos a abordagem para medir a imagem do professor, a partir da pergunta “De zero a dez, você indicaria esse professor para um amigo ou colega?”. A questão era seguida de “justifique”. Daí detectamos alguns padrões. Por exemplo: em um dos casos, cerca de 40 justificativas relataram que o professor era grosseiro em sala de aula. Esse profissional poderia ter muito domínio de conteúdo, mas seu comportamento criava uma barreira que dificultava o aprendizado. Ao perceber coisas assim, a instituição consegue interferir.

Quais os outros resultados?
Foram muitos. Os coordenadores se aproximaram do corpo docente, ajustando a percepção de qualidade dos alunos. Com essa percepção melhorada, a Unipam recebeu mais indicações. Se em 2009 tivemos meio milhão de prejuízo, dali a seis anos tínhamos mais de 20% de lucro, o que permitiu vários investimentos e melhoria contínua da qualidade. Também passamos de 5 mil para 10 mil alunos matriculados. Resultados assim são bem importantes, especialmente nesse momento de constantes desafios da educação.

Quais são os desafios da educação, na sua opinião?
O mundo está mudando de forma muito intensa e isso faz com que a gente questione se o ensino oferecido é eficaz à realidade de mercado. Ao mesmo tempo, tenho consciência de que o conhecimento é um ativo que permanecerá para sempre. Percebemos novas tecnologias surgindo, como o uso de realidade virtual, realidade aumentada e impressões 3D. Acredito que o uso de chatbots e de inteligência artificial também influenciará bastante na forma de aprender e de ensinar. E vejo, ainda, que fomentar o empreendedorismo é essencial para avançarmos na educação e no desenvolvimento econômico do país – aliás, finalmente, há algumas IES se movimentando para isso. Mas é preciso unir empresas, instituições e governos para criar novos ecossistemas de inovação que, além de contar com espaços makers, aceleradoras, laboratórios de pesquisa, etc., consigam realmente provocar e engajar as pessoas para o empreendedorismo. São, enfim, desafios bem interessantes.


Fórum de Lideranças: Desafios da Educação 2018

Data: 17/05 (quinta-feira)
Horário: 7h às 12h30
Local: Centro Universitário Ítalo Brasileiro (Av. João Dias, 2046 – Santo Amaro, São Paulo)
Link para inscrição: CLIQUE AQUI.

Sobre o Fórum de Lideranças

O evento, que faz parte da iniciativa Desafios da Educação, é realizado todos os anos pelo Grupo A e conta com apoio da Blackboard e da SAGAH. O Fórum de Lideranças: Desafios da Educação já contou com palestras de nomes nacionais e internacionais como Peter Dourmashkin – Professor Sênior do MIT e Especialista em Sala de Aula Invertida, Dale Stephens – Fundador do movimento UnCollege, Josiane Tonelotto – Reitora Nacional de Ensino a Distância da Rede Laureate, Ryon Braga – Presidente do Conselho de Administração da Hoper Educação, entre outros. Para a edição 2018, além de Fagner de Deus, estão confirmados Claudio de Moura Castro, economista, educador e autor de diversos livros no segmento; Miguel Andorffy, fundador da Me Salva!; e Arapuan Netto, reitor e presidente do Centro Universitário Augusto Motta (Unisuam), no Rio de Janeiro.

Redação
A redação do portal Desafios da Educação é formada por jornalistas, educadores e especialistas em ensino básico e superior.

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