Por Fernando de Mello Trevisani*
É fundamental que os alunos tenham consciência plena sobre o processo de aprendizagem do qual fizeram ou fazem parte, sendo capazes de perceber o que estão aprendendo, como estão aprendendo e o que podem fazer, em grupo ou individualmente, para potencializar e melhorar seu desempenho tanto no que se refere aos conceitos curriculares que devem ser aprendidos quanto às competências gerais não relacionadas a um conteúdo disciplinar específico.
Um modo de tornar visível para os alunos o que eles estão aprendendo é por meio de feedback, um ato de comunicação que visa dar consciência aos estudantes sobre o que e como estão aprendendo e também como melhorar sua aprendizagem ao longo do processo.
O feedback pode ocorrer com foco em vários aspectos do cotidiano de um estudante: avaliação sobre o que aprendeu com relação a um conceito, sobre a nota numérica resultante de um processo, sobre o seu comportamento, sobre um trabalho em grupo ou até mesmo sobre uma autoavaliação que o aluno realizou.
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O sistema de avaliação aplicado na maioria das escolas tem impactado negativamente os estudantes, e isso não apresenta relação somente com as provas aplicadas. A forma como o resultado final (o que chamamos comumente de “nota”) é comunicado aos alunos também gera impactos negativos.
Um resultado expresso em forma de um número não gera nenhuma outra ação por parte do aluno, a não ser compará-la com o resultado de seus colegas, e uma parte dos alunos pode concluir que não é tão boa quanto os outros (Boaler, 2018). Alguns alunos, ainda, podem encarar a pontuação obtida como um indicador de quem eles são como pessoas ou de que seu esforço não foi recompensado, não fazendo sentido repeti-lo em outra oportunidade.
Buscando melhorar esse aspecto, é possível aplicar modelos diferentes de devolutivas para os alunos, como, por exemplo, o modelo mostrado nas pesquisas de Elawar e Corno (1985) e de Butler (1987; 1988). Esses autores afirmaram que os estudantes que receberam comentários diagnósticos em uma avaliação aumentaram seus resultados quando comparados àqueles que receberam notas numéricas.
Butler também acrescentou um novo cenário, em que os alunos recebiam notas numéricas e comentários diagnósticos em uma mesma avaliação, porém o resultado foi o mesmo que o dos alunos que receberam apenas notas numéricas.
O feedback de orientação visa ajudar os alunos a aprimorarem suas técnicas, aumentarem seu conhecimento, mas também pode servir para abordar seus sentimentos com relação ao que está sendo estudado e a como mudá-los.
Esse tipo de feedback tem como objetivo ajudar o aluno a crescer, aprender e mudar. Podem ser usadas frases como: “para melhorar nesse aspecto da disciplina, você pode fazer…”, “vejo que está se comportando dessa forma, mas o esperado é que…”, entre outras.
Já o de avaliação busca classificar ou comparar com um padrão, ajustando expectativas e auxiliando a tomada de decisões por parte do aluno. Podem ser feitos comentários como: “vi que seu desempenho não foi tão bom, porém agora corrigimos os pontos principais e tenho certeza de que em uma próxima oportunidade você melhorará” e “para melhorar, pode tentar estudar dessa outra maneira: [explicação]”.
Repare que o primeiro comentário menciona o fato de o desempenho do aluno não ter sido tão bom quando comparado ao dos outros alunos, mas isso fica implícito.
Os três tipos de feedback são importantes, pois exercem funções diferentes no processo. Em minha realidade, busco usar os três sempre que possível. O “olho no olho” com os alunos ajuda, uma vez que eles percebem elementos que não existiriam se a devolutiva fosse dada por escrito, como o próprio olhar, o tom da voz e a forma de falar e de explicar os pontos que devem ser corrigidos ou melhorados.
Em alguns casos, também é importante deixar visível para o aluno algum aspecto de seu comportamento que impacta diretamente na qualidade da sua aprendizagem. Isso pode ser desde sono excessivo nas aulas da manhã até conversa demasiada em sala de aula, ou, ainda, falta de comprometimento na realização das tarefas de casa.
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Todavia, muitas vezes o comportamento do aluno está ligado diretamente com a motivação que este tem para estar focado em aprender os conceitos necessários.
Brophy (2004) menciona que há dois tipos de motivação: a motivação intrínseca e a motivação para aprender. A primeira faz os alunos buscarem atividades acadêmicas pelo simples fato de as considerarem prazerosas. Contudo, é fato que nem sempre isso ocorre. A segunda faz necessário que o professor pense em atividades academicamente significativas e proveitosas para obter delas os benefícios do aprendizado pretendidos.
Por isso, durante minha prática em sala de aula, procuro explicar o objetivo de cada tarefa para os alunos, mostrando, inclusive, os motivos de eles terem de desenvolver e realizar tarefas de sistematização mais mecânicas em alguns momentos. O importante é não tornar todos os momentos e nem todas as tarefas desse tipo, mas sim mesclá-las com problemas que fazem parte do cotidiano ou interessem aos alunos.
É fundamental explicar, além da tarefa em si, o porquê de ela ser importante, o que se espera deles durante sua realização e o impacto dela em outros conceitos. Isso aumenta o engajamento e a motivação dos alunos, pois os torna conscientes e mostra a importância do processo que vivenciarão pós-explicação.
A última forma de feedback que utilizo para deixar claro para os alunos se eles estão aprendendo é dividida em duas partes, que, ao meu ver, se encontram: a autoavaliação e a avaliação de um grupo. Ambas podem ser olhadas pelas lentes da aprendizagem de um conceito específico ou pelas lentes da postura ou do comportamento ao se trabalhar em um grupo.
Considerando o olhar sobre a possibilidade de um aluno ter aprendido ou não um determinado conceito, é fundamental levar os alunos a refletir sobre o que aprenderam ao final de um processo (p. ex., aula, sequência de aulas, capítulo de livro, atividades).
Sempre peço para os alunos refletirem sobre a questão: “o que aprendi ao final desta aula?”. Isso clareia a visão deles sobre o próprio aprendizado conceitual, fornecendo uma imagem sobre eles próprios e a compreensão que tiveram do que foi ensinado.
Além disso, também é possível usar um recurso tecnológico. Eu classifico a devolutiva dada por algumas ferramentas tecnológicas como autoavaliativas, como, por exemplo, aquelas que fornecem resultados em forma de acerto ou erro ou de gráficos, geralmente presentes em plataformas adaptativas, pois os alunos, individualmente e enquanto utilizam tal ferramenta, podem obter um feedback automático sobre seu desempenho.
Cabe a eles ler e interpretar o que os dados querem lhes dizer, assim como, muitas vezes, cabe a eles também traçar novos rumos para si, pois estão em um momento de estudo autônomo, independente.
O ensino híbrido traz modelos de aula que consideram esses aspectos para ressignificar a avaliação, visto que o professor pode considerar os dados gerados por ferramentas tecnológicas em seus feedback ou até mesmo inserir ferramentas que possuam devolutivas em tempo real em suas aulas, dependendo do modelo de aula utilizado (Bacich; Neto; Trevisani, 2015).
O outro tipo é o feedback dado por um grupo após uma tarefa que foi feita colaborativamente. É fundamental que, em algum momento, os alunos tenham contato com uma devolutiva que seja dada pelos colegas, tanto do ponto de vista de aprendizagens de conceitos quanto de avaliações referentes ao comportamento e ao quanto o aluno contribuiu com seu grupo na realização da tarefa.
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Mostrar aos alunos que há múltiplas visões e opiniões sobre eles, que elas não são necessariamente iguais e que uma mesma ação pode gerar impactos positivos e negativos em pessoas diferentes são atitudes fundamentais.
*Escrito por Fernando de Mello Trevisani, o artigo “A importância do feedback na visibilidade da aprendizagem” está na edição n° 39 da Revista Pátio Ensino Médio, Profissional e Tecnológico.
Sobre o autor
Fernando de Mello Trevisani é licenciado em Matemática, pós-graduado em Educação Inovadora, mestre em Uso de Tecnologias no Ensino, professor de matemática no ensino médio no Colégio Sidarta e professor no curso de pós-graduação em Metodologia Ativas no Instituto Singularidades. E-mail: fernando-mt@hotmail.com.
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