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Como as gigantes da tecnologia apostam em edtechs

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As transformações proporcionadas pela tecnologia não são mais uma novidade na área educacional. Já faz algum tempo que recursos virtuais como o Learning Management System (LMS) e o próprio YouTube fazem parte da rotina de professores, alunos e instituições de ensino ao redor do mundo. Além de otimizar as estratégias de aprendizado, o novo paradigma converteu o segmento numa espécie de Eldorado para as gigantes da tecnologia mundial.

Google, Facebook, Apple, Amazon, IBM, Microsoft, enfim, os maiores players do setor definitivamente voltaram suas atenções a esse mercado. Nos últimos anos, essas multinacionais ampliaram investimentos e apresentaram novas soluções direcionadas a diversas modalidades educacionais – seja por iniciativa própria ou apoiando startups. Algumas apostas têm interesses filantrópicos e são feitas por meio de fundações de cunho social vinculadas às empresas. Entretanto, a maior parte dos aportes é mesmo comercial, e foi motivada pelo potencial de crescimento mercadológico.

A volúpia do setor chama atenção. Desde 2007, o mercado global de tecnologia educacional recebeu cerca de US$ 37,8 bilhões em investimentos. Detalhe: 25% desse total (US$ 9,5 bilhões) foram movimentados somente em 2017, segundo a revista Forbes, envolvendo nada menos do que 813 edtechs. Mas esses números não param de subir. O segmento deve movimentar US$ 250 bilhões até 2020, de acordo com o relatório EdTechXGlobal, elaborado pelo banco inglês IBIS Capital.

Confira a seguir como as principais empresas de tecnologia estão investindo no setor educacional.

Onde há Microsoft, há educação

A exploração de novas ferramentas educacionais deixou o terreno da ousadia para entrar na esfera dos ativos estratégicos da empresa fundada por Bill Gates. É o que assinala Antônio Moraes, diretor de Educação da Microsoft no Brasil. Em entrevista exclusiva ao Desafios da Educação, que pode ser lida aqui, o executivo afirma que a companhia está comprometida com a democratização de diversas tecnologias, como a Inteligência Artificial (IA): “Acreditamos que a IA vai mudar os rumos da educação”.

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A empresa também possui outras iniciativas no segmento, como a Microsoft Classroom, o OneNote e o Minecraft: Education Edition. Na Classroom, professores e alunos podem gerenciar aulas e fluxos de tarefas de maneira ágil e simplificada. Já o OneNote acompanha em tempo real o trabalho dos alunos e adapta o aprendizado às necessidades de cada um deles. O Minecraft, por sua vez, origina-se de um dos jogos digitais mais populares da atualidade. Espécie de releitura educacional do game, a ferramenta permite que os educadores acompanhem o desempenho dos estudantes e avaliem os resultados de acordo com a proposta das atividades.

Alunos são avaliados de acordo com desempenho no Minecraft: Education Edition, releitura educacional de um dos jogos mais populares da atualidade

No ramo filantrópico, a Fundação Bill & Melinda Gates, vinculada à Microsoft, e a Chan Zuckerberg Initiative (CZI), ligada ao Facebook, anunciaram uma parceria. O objetivo é levar novas ferramentas digitais para dentro das salas de aula. De acordo com o Education Week, os investimentos pretendem estimular o desenvolvimento dos alunos em áreas como escrita e matemática, além das chamadas funções executivas – incluindo autocontrole e atenção, por exemplo.

E a Microsoft também não para por aí. Por meio da M12, sua subsidiária de venture capital, a empresa investiu US$ 43 milhões na Redmond, responsável pela plataforma educativa Kahoot!, em que professores e alunos elaboram seus próprios jogos digitais. Criado em 2013, na Noruega, o app conta com 70 milhões de usuários em mais de 200 países. Já no Brasil a Microsoft aportou US$ 120 mil na Plape, uma startup de Santa Catarina. A empresa de IA se dedica à análise de dados que ajudam a diminuir a evasão, captar novos alunos e melhorar o posicionamento das IES no Exame Nacional de Desempenho de Estudantes (Enade).

Google, um desbravador

Uma das primeiras gigantes da tecnologia a apostar na educação foi o Google. E o Brasil faz parte desse processo. Em 2016, por meio do Google.org, seu braço de responsabilidade social, a empresa destinou R$ 15,8 milhões a um projeto de capacitação de professores e preparação de alunos para o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). Desenvolvida em parceria com a Fundação Lemann e a revista Nova Escola, a metodologia já atingiu 300 mil educadores.

Foi desse projeto que nasceu o YouTube Edu, canal de vídeos com mais de 15 mil aulas direcionadas à capacitação de professores. Lançando mão de métodos digitais inovadores, os vídeos contemplam as disciplinas de Matemática, Ciências, Biologia, Física, Química, Língua Portuguesa, Inglês, História e Geografia. As aulas são apresentadas por profissionais capacitados pelo próprio programa. O Google também lançou um aplicativo com dicas para o Enem. Ambos têm acesso liberado e gratuito.

Em entrevista à revista Veja, o vice-presidente de produto do Google, Mario Queiroz, afirma que o futuro da educação brasileira consta entre as prioridades da empresa. “O sucesso dos nossos filhos vai depender muito de como preparamos educadores de todas as partes do Brasil para que eles se adaptem a novas tecnologias”, explica. Esse olhar mais atento carrega um componente mercadológico: o país é um fenômeno no consumo de aplicativos. Segundo a Agência EFE, 93% dos smartphones brasileiros utilizam o sistema operacional Android, desenvolvido pelo Google.

Leia mais: 9 benefícios da tecnologia no ambiente de ensino

No cenário internacional, o destaque fica por conta do Google Education. Trata-se de uma megaplataforma com diversos dispositivos gratuitos para facilitar a vida de alunos e professores – dentro e fora da sala de aula. Os recursos incluem desde a criação de aulas interativas até o acompanhamento em tempo real do desempenho das turmas. A proposta da ferramenta é aperfeiçoar o ensino e envolver ainda mais os estudantes, principalmente crianças e adolescentes.

No que se refere a aquisições de edtechs, o Google também não sai do pelotão de frente. Em 2014, a empresa efetivou a compra de parte da Renaissance Learning. A startup americana oferece soluções digitais para qualificar a rotina de avaliação de professores. O negócio envolveu a Google Capital, braço de investimentos da companhia, e movimentou US$ 40 milhões.

Google Campus em Tel Aviv, Israel: empresa foi uma das primeiras gigantes da tecnologia a apostar na educação.

A Renaissance agrega dados fornecidos por mais de 30 mil escolas dos Estados Unidos. Em contrapartida, as instituições utilizam a plataforma para melhorar os planos de aula de seus professores e fazer o acompanhamento dos alunos – principalmente em Matemática e Literatura. Estima-se que sejam feitas mais de 45 milhões de avaliações de estudantes por ano na nuvem da edtech.

O radar educacional do Google contempla, ainda, o ensino personalizado. Prova disso foi a aquisição de parte do capital da Edwin, uma plataforma que reúne IA e aprendizado individual. A ferramenta disponibiliza ao usuário um robô que atua como um “professor de Inglês inteligente”, capaz de solucionar as principais carências de aprendizagem do idioma.

A meta do Google é integrar o dispositivo ao Google Assistant a fim de disponibilizá-lo em smartphones ou acessá-lo via alto-falantes do Google Home – um acessório capaz de conectar-se com outros aparelhos da casa. Com a força do investidor e do know how técnico aportado, a Edwin já soma 800 mil usuários – a maioria deles no México.

No radar de Zuck

Além da parceria firmada com a Fundação Bill & Melinda Gates, o Facebook trilha outros caminhos na área de edtechs. Os investimentos da CZI vêm sendo direcionados a projetos envolvendo novos modelos de tecnologia em educação. Não foi por acaso que, no ano passado, a companhia aportou US$ 150 milhões em duas startups que desenvolvem plataformas de ensino personalizado: a AltSchool e a Byju´s.

Fundada em 2008 na Índia, a Byju´s oferece ao mercado um aplicativo que auxilia no ensino de Matemática, Física e Biologia. O app já foi baixado por 5,5 milhões de pessoas, sendo 250 mil pagantes, que desembolsam US$ 150 pela assinatura anual. O investimento da CZI contou com o apoio de alguns dos principais fundos de investimento em startups, como Sequoia e Sofina.

Leia mais: 5 inovações do ensino que estarão nas salas de aula em 2018

“Ser apoiado pelo fundo do Facebook é muito encorajador. A injeção de fundos nos ajudará a crescer, a desenvolver nossos produtos e a impulsionar nosso objetivo de revolucionar o aprendizado em todo o mundo”, afirma o criador da edtech, Byju Raveendran, em entrevista à Forbes. O projeto, diz ele, é criar produtos melhores e mais interessantes nos próximos dois anos. “As soluções ajudarão os alunos a se tornarem aprendizes por toda a vida.”

A AltSchool é uma iniciativa mais recente, criada em 2014 por um ex-funcionário do Google. Trata-se de uma rede de pequenas escolas que busca novas estratégias para personalização, em pleno Vale do Silício, na Califórnia, berço das principais empresas de tecnologia do planeta.

Outro projeto liderado pela CZI é a Summit Learning Platform, criada para facilitar o ensino personalizado. Desenvolvida por professores, a ferramenta ajuda os alunos a vincular atividades diárias a metas de longo prazo. A plataforma estimula os alunos a aprenderem novas habilidades e aplicá-las a projetos fora do ambiente virtual. O recurso é gratuito e oferece conteúdos para as disciplinas de Inglês, Matemática, Ciências, Espanhol e Estudos Sociais.

Amazon de olhos bem abertos

A Amazon também não quer ficar de fora da transformação do ensino. Nos últimos anos, a empresa de Jeff Bezos entrou com vigor no mercado de edtechs. Depois de ter adquirido a TenMarks, em 2013, a gigante está expandindo cada vez mais o sistema, cujo foco inicial era proporcionar métodos personalizados de melhoria na aprendizagem de Matemática. Recentemente, o dispositivo foi ampliado para aprimorar a escrita dos alunos. A nova etapa inclui o acesso a exercícios curtos e a um assistente digital que dá feedback personalizado aos estudantes.

Outra incursão da companhia foi o lançamento de uma espécie de rede social para professores: a Amazon Inspire, inaugurada em 2016. O serviço colaborativo é aberto e ajuda os docentes a descobrir, coletar e compartilhar facilmente conteúdo educacional de qualidade.

A plataforma opera em versão beta, depois de ter enfrentado percalços iniciais. Um dia após o lançamento, alguns educadores reclamaram que seus materiais de ensino haviam sido postados por outras pessoas sem permissão. De acordo com uma reportagem do New York Times, o Amazon Inspire teria sido aberto sem um sistema para revisar se os usuários estavam violando direitos autorais quando carregavam materiais – ferramenta que é padrão no YouTube, por exemplo.

A Amazon também adquiriu recentemente uma fatia da startup Everfi, plataforma de cursos online em franco crescimento nos Estados Unidos. Por meio de parcerias com organizações, instituições e educadores, a startup entrega pacotes de aulas voltados a universidades e empresas que necessitam de treinamento corporativo.

IBM e seu Netflix educativo

Em 2016, a IBM lançou uma versão educacional do Watson, a revolucionária ferramenta de IA criada pela empresa. O tutor virtual aprende numa velocidade muito acima da mente humana e é capaz de oferecer diálogos naturais com o estudante, elaborando perguntas, dicas e explicações sobre os assuntos abordados. No contato com o professor, ele aponta as principais dificuldades dos alunos e diz quais deles mais precisam de ajuda. O projeto, aliás, foi desenvolvido em parceria com a Pearson Education, de Londres.

No Brasil, a ferramenta pode ser vista em ação na Saint Paul Escola de Negócios, em São Paulo. O IBM Watson serviu de base para o LIT, uma plataforma de ensino que fornece aulas e distribui certificações aos alunos. A ferramenta também possui recursos de IA que ajudam a eliminar conteúdos já aprendidos e resultam em uma aprendizagem mais rápida e assertiva.

Em artigo publicado no blog da IBM, Alexandre Mattioli, gerente editorial da Pearson Brasil, escreve que a IA na educação não é mais um assunto futurista, mas uma realidade. “Incluí-la não significa substituir professores, mesmo porque a experiência humana é insubstituível no processo de aprendizagem. Trata-se, na verdade, de empoderar professores com ferramentas que os auxiliem a entregar a seus alunos um aprendizado mais personalizado, flexível, inclusivo e engajador.”

Apple anuncia novidades

Em março, o CEO da Apple, Tim Cook, revelou novas iniciativas orgânicas da gigante da tecnologia na área educação. A maior novidade está no Projeto Escolar, uma ferramenta que ajuda professores a criar tarefas e acompanhar o progresso dos alunos de forma virtual. O novo aplicativo é uma evolução do app Sala de Aula, uma das primeiras soluções de ensino oferecidas pela Apple em dispositivos móveis, utilizado pelos educadores para integrar o iPad à vida escolar.

“A criatividade eleva o nível de envolvimento dos alunos, e nossa maior intenção é ajudar professores a trazer a criatividade para dentro da sala de aula”, afirmou Philip Schiller, presidente sênior de marketing global da Apple durante o evento de apresentação das novas ferramentas, em Chicago, EUA.

Aplicativo da Apple, Projeto Escolar ajuda professores a criar tarefas e acompanhar virtualmente o progresso dos alunos

O Projeto Escolar tem uma grande vantagem: o app é interligado a outros aplicativos, como Nearpod, Tynker e Kahoot. Com isso, os professores aumentam seu leque de possibilidades de ensino – seja no formato que querem lecionar ou na maneira como pretendem interagir com os alunos. Pelo novo app, os educadores possuem uma visibilidade geral do desempenho de cada estudante, já que conseguem verificar as atividades e o progresso deles em suas tarefas.

Seguindo a linha de otimizar a rotina escolar, a Apple lançou, no mesmo evento, o aplicativo Criatividade para todos. A solução, que vai estar disponível até o fim deste ano, ensina alunos a desenvolver e comunicar ideias por meio de fotos, vídeos, músicas e desenho. Além disso, oferece maneiras divertidas de os professores integrarem esses recursos às tarefas de aula.

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Redação
A redação do portal Desafios da Educação é formada por jornalistas, educadores e especialistas em ensino básico e superior.

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