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Anote este nome: Google Career Certificates – Certificado de Carreira do Google, em português. É com ele que a gigante de tecnologia pretende revolucionar o conceito de formação superior e fazer concorrência às faculdades tradicionais.

Prestes a entrar em operação nos Estados Unidos, em outubro, o Google Career Certificates consiste de cursos digitais para profissões de alta demanda em áreas como gestão de projetos, ciência de dados, suporte de TI (tecnologia da informação) e design de UX (experiência do usuário). Os programas ficarão hospedados na plataforma Coursera e serão ministrados por funcionários do Google.

A empresa afirma que a inovação pretende dinamizar e encurtar o processo de formação profissionalizante. “Diplomas universitários estão fora do alcance de muitos americanos, e você não deve precisar de um diploma universitário para ter segurança econômica”, escreveu Kent Walker, vice-presidente sênior de assuntos globais do Google.

Diferentemente de uma graduação, que em média dura quatro anos, os cursos do Google Career Certificates são feitos em até seis meses. O custo? Uma pechincha: 50 dólares mensais, ou 300 dólares por semestre. Para efeitos de comparação, cursar um semestre em uma faculdade americana tradicional custa em média 15 mil dólares.

E tem mais: depois de completar o curso, o Google promete ajudar os alunos na busca de um emprego – seja dentro da empresa ou em outras empregadoras, como Intel, Walmart e Bank of America.

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O que dizem os especialistas

O Google Career Certificates vem na esteira de uma tendência observada nos últimos anos, quando grandes empresas começaram a abrir mão do diploma em seus processos seletivos – entre elas IBM, Amazon, Apple, Nubank, EY, Penguin Random House, Whole Foods e, claro, o Google.

“O setor produtivo vem sinalizando para o mundo acadêmico a sua insatisfação com o perfil de aluno que está sendo formado”, Ryon Braga, diretor-presidente da Uniamérica, disse em entrevista recente ao Desafios da Educação. “Era natural que as empresas não ficassem só na crítica e, com o avanço da tecnologia, começassem a fazer alguma coisa, principalmente nas áreas não-regulamentadas.”

Liz McMillen, Rui Fava e Ryon Braga: especialistas analisam potencial do Google Career Certificates. Montagem: Desafios da Educação, com fotos de divulgação.

Liz McMillen, Rui Fava e Ryon Braga: especialistas analisam potencial do Google Career Certificates. Montagem: Desafios da Educação, com fotos de divulgação.

Para a editora do site The Chronicle of Higher Education, o Google quer promover uma disrupção no conceito de ensino superior. “Se o Google fala em contratar pessoas que participaram desses cursos e que não têm diplomas universitários, o objetivo da empresa é claramente mudar as regras do jogo”, afirmou Liz McMillen, segundo a revista Veja.

Mesmo que seja bem-sucedido, o movimento da big tech não decreta o fim das universidades. “Para algumas profissões nas áreas de Medicina e Direito, por exemplo, o diploma ainda tem e terá peso decisivo”, explica Rui Fava, que foi reitor da Universidade de Cuiabá (Unic), da Unopar e vice-presidente acadêmico da Kroton (atual Cogna).

Em outras áreas do conhecimento, porém, cursos como os do Google Career Certificates tendem a ser mais competitivos do que os oferecidos por instituições de ensino superior tradicionais. Isso porque “o que se ensina no primeiro ano de um curso estará obsoleto no final de quatro a cinco anos, não legitimando o alto investimento”, acrescenta Fava, autor do livro Trabalho, Educação e Inteligência Artificial: A Era do Indivíduo Versátil (Penso, 2018).

De fato, a certificação do Google parece resolver dois grandes problemas. Primeiro, o preparo adequado dos alunos para as habilidades exigidas pelo mercado de trabalho. Segundo, vai diminuir o custo da formação superior – que, nos Estados Unidos, costuma deixar os estudantes com uma dívida enorme ao final do curso.

Ainda não há previsão para o Google Career Certificates operar no Brasil – embora os cursos, ministrados em inglês, tenham opção de legenda em português. O que dá tempo às faculdades tradicionais repensarem o tipo de educação que oferecem.

“Não faz sentido para o aluno escolher um curso de 4 ou 5 anos, como Engenharia de Software, Tecnologia da Informação ou Engenharia da Computação, com currículo pré-definido”, segundo Ryon Braga. “Ao final do curso, o conhecimento dos primeiros semestres está obsoleto, pois a tecnologia evolui a cada 6 meses.”

Leia mais: Com projetos integradores, centros universitários organizam novas formas de ensinar

Leonardo Pujol
Leonardo Pujol é editor do portal Desafios da Educação e sócio-diretor da República, agência especializada em jornalismo, marketing de conteúdo e brand publishing. Seu e-mail é: pujol@republicaconteudo.com.br

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