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Instituições de ensino incorporam soft skills ao vestibular

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Candidatos montam torres com peças de Lego na segunda etapa do vestibular da Ibmec. Créditos: Ibmec/divulgação.

A avaliação de competências socioemocionais chegou ao vestibular. Embora a imensa maioria das instituições de ensino superior (IES) siga avaliando apenas o conhecimento teórico do aluno e seu desempenho na redação, algumas organizações têm ido além e avaliado também o comportamento dos vestibulandos.

Por meio de dinâmicas em grupo, entrevistas ou desenvolvimento de projetos, essas instituições buscam medir habilidades comportamentais, conhecidas como soft skills. Entre elas, estão capacidade de comunicação, criatividade, trabalho em equipe e pensamento crítico.

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“Quando as universidades utilizam esse método de seleção, que leva em conta o comportamento do candidato, acabam proporcionando a ele uma preparação maior para o mercado de trabalho”, disse Rodrigo Vianna, CEO da consultoria de recrutamento Mappit, em entrevista ao portal Money Report.

Para Vianna, no entanto, o peso das soft skills não pode ser maior que o da prova objetiva. “O ideal é que corresponda a 20% ou 30% da nota do candidato.”

Já no Instituto Brasileiro de Mercado de Capitais (Ibmec), com unidades de graduação em sete estados, a ideia é que a nova dinâmica represente metade da nota final, como segunda etapa do vestibular – por ora, representa 30%.

A primeira vez que a instituição realizou a dinâmica foi em junho de 2018, na unidade de São Paulo. O piloto incluiu candidatos dos cursos de Administração, Direito e Economia. O restante do vestibular foi composto de prova tradicional e de redação. Desde então, o Ibmec aplicou o novo vestibular em Minas Gerais e no Rio de Janeiro.

Na dinâmica – produzida com o suporte de uma empresa de recursos humanos –, os candidatos são divididos em grupos e desafiados a desenvolver projetos sobre temas como reaproveitamento de recursos e geração “nem-nem” (jovens que nem estudam nem trabalham), a partir de materiais de apoio.

A dinâmica se assemelha ao processo seletivo de uma empresa, mas o nível de exigência é bem mais baixo do que o procurado em um estagiário, por exemplo. Os candidatos são avaliados por características como empatia, equilíbrio emocional, organização e capacidade de ouvir os colegas e de interpretação.

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Em entrevista ao Valor Econômico, Kenneth Almeida, que até então assumia o cargo de diretor geral do Ibmec São Paulo, explicou que essa segunda etapa surgiu pela demanda das empresas por cursos que desenvolvem habilidades comportamentais em seus alunos. “Se as empresas, que lidam com profissionais experientes, estão com esse problema, como posso conectar os dois mundos?”, disse Almeida. 

Foi pensando em aproximar o processo seletivo do que acontece no mundo real que o curso de Administração de empresas da Fundação Getúlio Vargas (FGV), de São Paulo, incluiu uma entrevista que vale 30% da nota. Em um formato parecido com o utilizado por RHs, a entrevista tem duração 20 minutos e é conduzida por dois professores, que avaliam a habilidade analítica, capacidade de iniciativa e o que de legal e inusitado o candidato já fez na vida.

No Insper, também de São Paulo, a avaliação de soft skills já é praxe no curso de Engenharia desde 2015 e para todas as graduações desde 2017. Os candidatos são divididos em grupos e cada participante deve mediar um debate sobre algum tema “polêmico” por sete minutos. A tarefa equivale a um quarto da nota.

“A proposta não é achar pessoas já totalmente proficientes, mas que tenham mais prontidão para desenvolver essas habilidades”, afirmou Tadeu de Ponte, coordenador do vestibular do Insper, ao Estadão.

O objetivo, segundo ele, não é medir o conhecimento dos candidatos, mas a capacidade de ouvir o outro e de apresentar divergências e consensos.

Em outra etapa, os candidatos do Insper devem pensar em questões que os ajudariam a entender determinado assunto. A ideia é avaliar a capacidade de organizar ideias e de “aprender a aprender”.

Ao Valor, o presidente da Associação Brasileira de Avaliação Educacional (Abave), Joaquim José Soares Neto, afirmou que a valorização das soft skills nos vestibulares vai levar a uma diferenciação do perfil dos alunos no ensino superior. O modelo, segundo ele, favorece com que “cada instituição tome suas decisões em relação ao perfil de aluno que busca”.

Redação
A redação do portal Desafios da Educação é formada por jornalistas, educadores e especialistas em ensino básico e superior.

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