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No Instituto Mauá, laboratório de fabricação vai além dos protótipos

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Laboratório de fabricação só faz sentido associado à uma proposta inovadora de aprendizado – o que na instituição do ABC Paulista ocorreu no modelo de Ensino Híbrido

Mas não basta apenas o fab lab: também é necessária proposta inovadora de aprendizado. Crédito: divulgação.

A autonomia de criação é um dos principais benefícios trazidos pelas novas tecnologias. Abrangente, o conceito vai além da produção de conteúdo dos usuários na internet e alcança a própria confecção de materiais e protótipos – uma das bases da cultura maker. Inspirado na filosofia do “Do it Yourself” (Faça Você Mesmo), o movimento ganhou força a partir da década passada, com o surgimento do laboratório de fabricação, ora chamado de makerspace ou fab lab.

A missão do fab lab é estimular a criatividade dos indivíduos através de diferentes ferramentas de industrialização digital. No Brasil, há espaços assim em diversas IES. Um dos exemplos vem do Centro Universitário do Instituto Mauá de Tecnologia, de São Caetano do Sul, no ABC Paulista.

O laboratório de fabricação do Instituto Mauá começou a ser implementado em 2013. A proposta é unir a teoria à prática, permitindo uma experimentação mais livre por parte dos alunos. A estrutura é frequentada por estudantes dos cursos de Engenharia, Arquitetura e Design.

Em 2018, o fab lab do Instituto Mauá ganhou novas instalações. Agora, ocupa uma área de 200 m², equipada com diversos recursos de última geração – como impressoras 3D, cortadoras a laser e máquinas CNC (ferramentas com operação programada por um computador) de grandes dimensões. Os aparelhos permitem desde a criação de pequenos objetos até a elaboração de protótipos maiores – até mesmo um carro. Em 2015, o espaço se dedicou à fabricação de skates, posteriormente doados à comunidade local.

Laboratório de fabricação: projeto diferenciado

O ambiente, entretanto, não é o ponto mais importante do fab lab. “Qualquer um pode montar um laboratório de fabricação. Basta ter dinheiro”, explica Marcello Nitz, pró-reitor acadêmico do Instituto Mauá de Tecnologia. “Porém, o local só terá sentido se estiver associado a uma proposta inovadora de aprendizado.”

O Instituto Mauá tem seguido à risca essa orientação. Nos últimos anos, iniciou a remodelação do sistema de aprendizado, com base em referências buscadas no exterior. O conceito adota características do chamado Ensino Híbrido.

As aulas expositivas, por exemplo, são acessadas pela internet. Já o trabalho realizado in loco privilegia a realização de projetos. Ou seja, boa parte do aprendizado acontece longe da sala de aula. A grade estabelecida pelo Instituto Mauá reserva cerca de 20% da carga horária a essas atividades especiais, realizadas fora do currículo fixo e com liberdade de escolha por parte dos discentes.

Nesse modelo, o fab lab se constitui no principal espaço de experimentação e prática – embora não seja o único. Isso porque o campus como um todo é considerado um ecossistema de oportunidade. “Os alunos fazem transmissões de dados, colocam sensores, monitoram o transformador. Enfim, tudo é um objeto de experiência”, diz Nitz.

Até aqui, a abordagem vem dando certo. Os estudantes têm demonstrado um maior interesse pelo processo de aprendizagem. “Eles acessam muito mais a plataforma online para resolver os exercícios e chegam na sala de aula para trabalhar”, acrescenta o pró-reitor.

A atuação dos docentes também foi modificada na nova metodologia. Os professores são considerados “facilitadores” do processo de ensino. Por isso, o Instituto Mauá dedica uma atenção especial à formação dos profissionais, por meio de uma academia de capacitação.

No futuro, o Instituto Mauá pretende estender a utilização do fab lab à comunidade do ABC Paulista. Ao longo de 2018, a universidade planeja diversos projetos envolvendo os moradores da região, com o intuito de tornar a tecnologia acessível e disseminar o movimento maker.

Fazedores em rede

O laboratório de fabricação do Instituto Mauá não é uma experiência isolada entre as IES brasileiras. A Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (FAUUSP), por exemplo, possui um fab lab digital desde 2011. O espaço é aberto aos alunos de graduação e pós-graduação de áreas como Arquitetura, Design, Artes, Física e Engenharia.

Outro exemplo é o fab lab implementado pelo Centro Universitário Belas Artes de São Paulo. Fundado em 2015, o laboratório de fabricação digital e prototipagem conta com modernas impressoras 3D, que permitem a transformação de projetos gráficos em objetos de plástico e madeira.

Já o makerspace da faculdade Insper, também surgido em 2015, é dedicado aos alunos dos cursos de Engenharia e abre suas portas ao público externo uma vez por semana. O Open Day acontece todas as quintas-feiras, das 13h às 19h, em São Paulo.

Os três espaços são filiados à rede internacional de fab labs – criada em 2008 pelo Centro de Bits e Átomos do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT, na sigla em inglês). A iniciativa tem o objetivo de conectar os makerspaces de diferentes continentes, estabelecendo um sistema unificado para troca de experiências, conteúdos e colaborações.

Atualmente, existem mais de mil fab labs espalhados pelo mundo, de acordo com a Fab Foundation – organização dedicada ao desenvolvimento de redes internacionais de laboratórios de criação. Um dos mais importantes é o Fab Lab Barcelona, da Espanha. Aberto em 2007, o laboratório de fabricação integra o Instituto de Arquitetura Avançada da Catalunha e sedia a Fab Academy – uma plataforma de educação e pesquisa global que considera os fab labs como salas de aula de uma mesma universidade maker em escala mundial.

Leonardo Pujol
Leonardo Pujol é editor do portal Desafios da Educação e sócio-diretor da República, agência especializada em jornalismo, marketing de conteúdo e brand publishing. Seu e-mail é: pujol@republicaconteudo.com.br

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