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As instituições de ensino privadas e seus modelos de ensino gratuito

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A Escola de Negócios Leonard N. Stern da Universidade de Nova York. Crédito: divulgação.

A Universidade de Nova York (NYU, na sigla em inglês) surpreendeu seus 443 alunos de medicina – e o setor educacional – ao anunciar a formação gratuita para todos os futuros médicos. O recado foi dado na retomada das aulas, em agosto, e representa uma economia de US$ 55 mil por ano aos estudantes – a medida não cobre alojamento e outras despesas, que totalizam em média US$ 27 mil anuais.

A NYU tem dois objetivos com a nova medida. O primeiro é encorajar mais alunos a ingressarem no curso. “Nossa esperança, ao fazer a faculdade de medicina mais acessível, é nos tornarmos um catalisador para transformar a educação médica em todo o país”, disse à AFP o presidente do diretório do hospital universitário da NYU, Kenneth Langone.

A segunda razão é combater os crescentes níveis de endividamento estudantil. De acordo com a associação americana das faculdades de medicina, nos Estados Unidos a dívida média dos médicos recém-formados é de US$ 192 mil. Para 21% deles que estudaram em uma escola privada, como a NYU, os valores podem passar de US$ 300 mil.

Com dívidas astronômicas, adquiridas por empréstimos federais, muitos profissionais migram para especialidades de maior complexidade e mais remuneradas, gerando carência em áreas básicas como pediatria e ginecologia.

Leia mais: Dívida estudantil nos Estados Unidos: retórica versus realidade

Iniciativas americanas e estrangeiras

A NYU diz que é a primeira instituição privada americana a oferecer bolsa integral aos estudantes de um curso. É verdade, mas o setor também registra iniciativas semelhantes.

Em dezembro passado, por exemplo, a Universidade de Columbia, outra renomada instituição de ensino de Nova York, anunciou a injeção de US$ 250 milhões para pagar a formação de alunos com dificuldades econômicas e conceder bolsas de estudos. A iniciativa foi da Escola de Médicos e Cirurgiões da universidade, uma das mais caras do país, onde o custo anual pode chegar a US$ 90 mil entre mensalidades e outras despesas.

Na Faculdade de Medicina David Geffen da Ucla, a Universidade da Califórnia, em Los Angeles, um fundo de US$ 100 milhões anunciado há vários anos paga todo o custo da faculdade de medicina nos quatro anos, incluindo mensalidades, taxas, livros e despesas. No total, 20% dos alunos são contemplados.

O programa da Ucla, no entanto, é baseado no mérito. Não considera questões de necessidade, como o projeto da Universidade de Stanford, uma das melhores do mundo, que dá gratuidade a estudantes de famílias com renda de até US$ 125 mil anuais. Privada, a instituição é uma das mais concorridas dos Estados Unidos. Foi nela que empresas gigantes como Google, HP e LinkedIn deram seus primeiros passos.

No Brasil, o governo federal também concede bolsas parciais e integrais a estudantes da rede privada. Pelo ProUni, o Programa Universidade para Todos, quem concluiu o ensino médio em escola pública ou como bolsista em colégio particular pôde requerer, no segundo semestre de 2018, uma das 174 mil oportunidades. Bolsas integrais são destinadas apenas a estudantes que comprovem renda familiar per capita de até um salário mínimo e meio; para bolsas parciais, de 50%, a renda mensal bruta por pessoa pode chegar a três salários.

Gratuidade retomada no setor público

Tratando-se de mensalidade estudantil, vale lembrar que em janeiro deste ano o governo chileno aprovou uma série de reformas que culminaram na restauração da gratuidade para o ensino superior público – o sistema era pago desde os anos 1980.

A reforma passa a dar preferência para a camada mais pobre da população, que representa 20% dos universitários. O Estado bancará as mensalidades. “Com a aprovação no congresso, consagramos como lei um direito social que nunca deveria estar nas mãos do mercado”, afirmou a ex-presidente, Michelle Bachelet.

Leia mais: Os ensinamentos do Chile, país com a melhor educação da América Latina

Redação
A redação do portal Desafios da Educação é formada por jornalistas, educadores e especialistas em ensino básico e superior.

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