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Os avanços e as oportunidades do ensino a distância no Nordeste

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Apesar do ensino superior presencial predominante, o Nordeste é uma região com forte ascensão dos cursos EAD e híbridos

Apesar do peso do ensino presencial nas matrículas, o número de ingressos no EAD cresceu no Nordeste. Crédito: Freepik

Quando decidiu fazer a terceira graduação, Iracema Fraga não hesitou ao escolher uma formação a distância. Atualmente, ela é aluna do curso EAD de Recursos Humanos no polo de Caruaru (PE) da Universidade Tiradentes (UNIT). Antes, estudou História e Direito – ambas graduações presenciais.

O que despertou o interesse de Fraga no ensino a distância foi o baixo custo. “[Faculdades presenciais] exigem um deslocamento diário e isso gera um custo financeiro com transporte”, explica.

Outra vantagem é a flexibilidade do formato. “Se você consegue se organizar e tirar duas ou três horas por semana já é o suficiente para realizar as atividades”, diz a estudante.

Fraga é uma das quase 1,3 milhão de pessoas matriculadas no ensino superior privado do Nordeste em 2019. A região, que é a segunda no Brasil em números populacionais, ocupa a mesma posição em universitários – só perde para a região mais populosa do país, o Sudeste, que tem 2,3 milhões de alunos.

Segundo os dados mais atualizados, que advém do Censo da Educação Superior de 2019, o modelo presencial prevalece nas faculdades nordestinas. Hoje, sete em cada dez alunos no Nordeste (um total de 869 mil) estão matriculados no presencial. Cerca de 400 mil (32%) estão ligados ao ensino a distância.

Mas o jogo pode estar virando: 49% dos ingressantes no ensino superior do Nordeste em 2019 escolheu a EAD. No recorte entre 2010 e 2019, a modalidade virtual cresceu 16,9%. E a expectativa é que continue crescendo. “A pandemia acelerou adesão do EAD no Nordeste”, diz o gerente de contas da +A Educação no Nordeste, Rodrigo Hassen.

Leia mais: As mudanças nas IES induzidas pela pandemia

Contexto do ensino superior no Nordeste

Os nove estados do Nordeste – Alagoas, Bahia, Ceará, Maranhão, Paraíba, Pernambuco, Piauí, Rio Grande do Norte e Sergipe – têm um mercado potencial superior a 4 milhões de alunos. Isso significa 4 milhões de pessoas aptas a iniciar um curso de graduação.

Entretanto, a propensão de gastos da população do Nordeste é a menor do país. Segundo a Educa Metrics, plataforma de monitoramento da consultoria Educa Insights, cerca de 48% do mercado potencial na região está disposto a investir até R$ 350 em mensalidades – bem próximo ao ticket médio da EAD, que é de R$ 359. Outros 27% tem condições de arcar com até R$ 500.

O Nordeste é uma região que encara diversos problemas sociais e econômicos. De acordo com o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas), os estados nordestinos concentram praticamente a metade de toda pobreza do Brasil.

A maior parte dos potenciais alunos do Nordeste é oriunda de escolas públicas (82%) e está concentrada na classe econômica C (47%). As camadas D e E também são representativas no alunado da região, com 35% do total.

Isso indica que as IES podem apostar na flexibilidade da educação digital para captar alunos. Afinal, as graduações EAD e híbridas têm mensalidades mais baixas na comparação com as presenciais.

Até o momento, o cenário tem favorecido a expansão dos grandes grupos educacionais na região. “Isso pode ser uma ameaça para as IES locais”, alerta Hassen.

Leia mais: Pandemia acelera aquisição no ensino superior

UNIT é referência na oferta de cursos EAD no Nordeste. Crédito Divulgação

O gerente de contas da +A Educação afirma que o aluno do Nordeste prefere estudar em uma IES local. A razão? Quando é menor, a instituição tem mais chances de entender a realidade do público e oferecer um atendimento mais personalizado.

O problema é que várias pequenas e médias IES do Nordeste mantêm cursos unicamente presenciais, afastando o potencial estudante que não consegue bancar uma mensalidade mais alta ou que não tem condições de frequentar regularmente a instituição.

Esse aluno acaba escolhendo opções que incluem mensalidade menor e formato EAD em instituições de grandes grupos educacionais – que podem ou não ser do Nordeste. “Elas [as faculdades locais] estão sendo engolidas pelas IES dos grandes grupos”, diz Rodrigo Hassen.

Um caso de sucesso. E o futuro do híbrido

A Universidade Tiradentes não segue essa cartilha – está entre as 10 IES privadas do Nordeste com mais alunos (EAD e presencial). É uma das poucas instituições de ensino superior da região que oferta cursos EAD.

Sediada em Aracajú (SE), a universidade tem polos EAD em 25 cidades de cinco estados: Alagoas, Bahia, Pernambuco, Rio Grande do Norte e Sergipe.

“É necessário compreender que não é apenas virtualizar ou disponibilizar tecnologia para o aluno estudar”, explica Karen Sasaki, gerente acadêmica de EAD da UNIT. Segundo ela, a universidade oferece uma aprendizagem baseada em metodologias ativas e o desenvolvimento de competências.

Quando a pandemia obrigou todos a ficarem em casa, a IES já tinha a experiência necessária para lidar com o ensino remoto emergencial e híbrido. A UNIT realizou o empréstimo de chromebooks para os alunos estudarem 100% online. “Tínhamos toda tecnologia educacional à disposição, implantada e em funcionamento”, conta Sasaki.

ensino híbrido

Leia mais: O que é mais caro para IES: EAD ou presencial?

“O modelo híbrido é uma solução para o Nordeste e também para o futuro da educação”, confirma Gustavo Hoffmann, especialista em ensino superior e colunista do portal Desafios da Educação.

A tendência é essa. O ensino presencial, segundo Hoffmann, deve diminuir em decorrência da pandemia. Por outro lado, mudar de uma vez para um formato 100% online pode gerar uma evasão muito grande. Por isso, o ensino híbrido é o melhor caminho.

“O híbrido é uma excelente alternativa àqueles alunos que não querem fazer um curso 100% a distância, mas que também não têm condições de pagar um curso presencial”.

À IES, o modelo híbrido fornece um custo-benefício maior. Além disso, diferentemente do presencial, o híbrido permite que o número de ingressantes no ensino superior seja maior. “Quanto menor a presencialidade, maior é o raio de abrangência”, explica Gustavo Hoffmann.

Leia mais: Ensino superior pós-pandemia: aprendizagem, captação de aluno e tecnologias

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