Ensino Básico

Um status sobre a alfabetização no Brasil

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Ainda há muitas pessoas que não possuem qualquer nível de alfabetização e que por este motivo ficam à margem da sociedade (Foto: Katerina Holmes/Pexels)

Ainda há muitas pessoas que não possuem qualquer nível de alfabetização no Brasil e que por este motivo ficam à margem da sociedade (Foto: Katerina Holmes/Pexels)

A alfabetização é uma das principais etapas da educação, sendo fundamental para promover a capacidade de leitura, compreensão e interpretação de texto. Também é um componente importante para o desenvolvimento de uma nação.  

Recentemente, o Brasil recuperou o desempenho de alfabetização que era observado antes da pandemia de Covid-19. Segundo o Ministério da Educação (MEC), 56% dos alunos de escolas públicas do Brasil, aos 7 anos, estavam alfabetizados em 2023. 

“Em 2019, o percentual de estudantes alfabetizados na rede pública do país era de 55%, percentual que, com a pandemia, caiu para 36% em 2021”, destacou o ministro Camilo Santana durante a apresentação de resultados do Compromisso Nacional Criança Alfabetizada. 

Apesar do avanço, ainda há muito a ser feito para alcançar uma alfabetização universal e de qualidade. 

Comparado com o índice de antes da pandemia, o crescimento médio nacional foi de apenas um ponto percentual. E ele foi puxado para baixo por São Paulo, Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Minas Gerais (que estão entre os maiores PIBs do País) e Bahia (o maior PIB da Região Nordeste). 

De acordo com especialistas, a combinação de desigualdade, infraestrutura insuficiente, e respostas variadas à pandemia pode ter contribuído para uma recuperação mais lenta no desempenho de alfabetização. 

Saiba qual a diferença entre alfabetização e letramento  

A distinção entre alfabetização e letramento é essencial para entender o processo educacional. Embora os termos sejam frequentemente usados de forma intercambiável, eles possuem significados distintos e complementares. 

Tanto a alfabetização quanto o letramento são fundamentais para o desenvolvimento dos estudantes, pois sem o primeiro, não é possível adquirir o segundo (Foto: MART PRODUCTION/Pexels)

Tanto a alfabetização quanto o letramento são fundamentais para o desenvolvimento dos estudantes, pois sem o primeiro, não é possível adquirir o segundo (Foto: MART PRODUCTION/Pexels)

Alfabetização refere-se à habilidade básica de ler e escrever. Este processo envolve o aprendizado do alfabeto, a decodificação de palavras e frases, e a compreensão dos sons das letras e sílabas. A alfabetização é o primeiro passo no desenvolvimento da capacidade de comunicação escrita e é fundamental para a educação inicial.  

Letramento, por outro lado, vai além da simples capacidade de ler e escrever. Ele se refere ao uso competente e crítico da leitura e escrita em contextos sociais. O letramento envolve a capacidade de interpretar, compreender e produzir textos complexos, além de utilizar essas habilidades em diversas situações cotidianas, como interpretar um manual, escrever um e-mail ou entender uma notícia. 

O que significa ser alfabetizado em nosso país? 

Alfabetização consegue desenvolver também a capacidade de socialização do indivíduo, uma vez que possibilita novas trocas simbólicas com a sociedade (Foto: Yan Krukau/Pexels)

Alfabetização consegue desenvolver também a capacidade de socialização do indivíduo, uma vez que possibilita novas trocas simbólicas com a sociedade (Foto: Yan Krukau/Pexels)

Dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) sobre educação de 2023, divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mostram que o Brasil ainda tem 9,3 milhões de analfabetos. Desse grupo, 8,3 milhões têm mais de 40 anos. 

A alfabetização na idade certa é fundamental para que as crianças consigam seguir sua vida com sucesso. Mas o que exatamente significa ser alfabetizado? 

Aprender a reconhecer letras, juntar sílabas e fonetizar não é o mesmo que empregar essas habilidades em propósitos comunicativos.  

O levantamento Alfabetiza Brasil, que contou com a participação de 251 professoras de 206 cidades do País, estabeleceu os parâmetros necessários para considerar uma criança como alfabetizada. São eles: 

  • Capacidade de ler pequenos textos, formados por períodos curtos e localizar informações na superfície textual; 
  • Conseguir produzir inferências básicas com base na articulação entre texto verbal e não verbal, como em tirinhas e histórias em quadrinhos; 
  • Escrever textos que circulam na vida cotidiana para fins de comunicação simples, como convites e lembretes, mesmo que com desvios ortográficos. 

De acordo com a Base Nacional Comum Curricular (BNCC), o foco da ação pedagógica nos dois primeiros anos do Ensino Fundamental deve ser a alfabetização, de maneira que as crianças “se apropriem do sistema de escrita alfabética de modo articulado ao desenvolvimento de outras habilidades de leitura e de escrita e ao seu envolvimento em práticas diversificadas de letramentos”. 

Leia mais:

Os prejuízos causados pelo atraso na alfabetização  

“Aprender a ler, a escrever, alfabetizar-se é, antes de mais nada, aprender a ler o mundo.”

A famosa frase de Paulo Freire sintetiza a importância da alfabetização na vida de qualquer indivíduo. 

Além de ser pilar para todas as disciplinas, a capacidade de ler e escrever de maneira adequada mobiliza diferentes dimensões do sujeito. 

O atraso na alfabetização de uma criança resulta em danos socioemocionais, prejuízos na escolaridade como um todo, taxas mais altas de reprovação e uma tendência ao abandono escolar. 

Além disso, o comprometimento do aprendizado do alfabeto e de sua utilização como código de comunicação tende a acompanhar o estudante ao longo de sua trajetória escolar, refletindo mais tarde em piores condições de emprego e renda. 

Quais são os desafios da alfabetização no Brasil?  

A educação no Brasil enfrenta desafios históricos, como falta de professores, material didático desatualizado e má gestão de recursos. 

Outro problema é que muitas crianças estão fora da escola. Segundo o Censo Escolar, foram contabilizadas 47,3 milhões de matrículas nas 178,5 mil escolas de educação básica no Brasil no ano passado — cerca de 77 mil a menos, na comparação com 2022. 

Além daqueles que sequer são matriculados, também existem os alunos que abandonam as aulas e não concluem o ano letivo. Quase 400 mil crianças e jovens de 6 a 14 anos não estavam frequentando a escola em 2023, segundo dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) no dia 22 de março de 2024.

Leia mais: 178 mil crianças não frequentam a pré-escola por dificuldade de acesso 

Um problema solúvel 

Durante a pandemia, a situação da alfabetização no Brasil piorou com a transposição forçada das atividades escolares para um modelo de ensino remoto emergencial. 

Nem todas as escolas tinham estrutura para capacitar profissionais. Enquanto a maior parte das famílias não dispunham de espaço, equipamentos e tempo para acompanhar as crianças que precisavam de suporte.  

Em maior ou menor grau, quem tinha acesso à tecnologia conseguiu manter uma rotina escolar. Entretanto, isso, por si só, não garantiu que as crianças aprendessem e se alfabetizassem. 

Em 2022, por exemplo, o percentual de crianças privadas do direito à alfabetização dobrou em relação a 2020: passando de 1,9% para 3,8%, segundo pesquisa da Unicef. 

Tempo insuficiente dedicado às atividades em sala de aula e a menor escolaridade dos pais são fatores que influenciaram o desempenho escolar. 

Assim, para que a alfabetização a distância produza bons resultados, é indispensável que família e escola façam os seus papéis em conjunto. 

Leia mais: 5 dicas para transformar sua casa na melhor sala de aula possível 

Recomendações para avanços na alfabetização 

A condução adequada da alfabetização pode transformar o aluno em um leitor interessado, facilitando as próximas etapas de aprendizado (Foto: Marta Wave/Pexels)

A condução adequada da alfabetização no Brasil pode transformar o aluno em um leitor interessado, facilitando as próximas etapas de aprendizado (Foto: Marta Wave/Pexels)

Para superar os desafios mencionados e garantir uma alfabetização eficaz e inclusiva, é crucial adotar um conjunto de estratégias abrangentes que envolvam políticas públicas, investimento em infraestrutura e apoio às famílias. A seguir, apresentamos algumas recomendações específicas:  

Formação e valorização de professores 

Programas de capacitação devem ser oferecidos regularmente, com foco em metodologias inovadoras e práticas pedagógicas eficazes. Além disso, é essencial melhorar as condições de trabalho e remuneração dos educadores para atrair e reter profissionais qualificados. 

Investimento em infraestrutura escolar 

É necessário investir na construção e manutenção de instalações escolares, fornecendo salas de aula bem equipadas, bibliotecas atualizadas e acesso a recursos tecnológicos. Esse investimento deve ser prioritário em regiões mais carentes, onde a defasagem é mais acentuada. 

Material didático atualizado e de qualidade 

Desenvolver e distribuir material didático atualizado e alinhado com a Base Nacional Comum Curricular (BNCC) é essencial para apoiar o processo de alfabetização. Esses materiais devem ser diversificados e incluir livros, jogos educativos, softwares e outros recursos que facilitem o aprendizado de forma lúdica e interativa. 

Programas de apoio às famílias 

O envolvimento familiar é um componente crucial para o sucesso na alfabetização no Brasil. Programas que orientem os pais sobre como apoiar o aprendizado de seus filhos em casa podem fazer uma grande diferença. Isso pode incluir workshops, guias práticos e plataformas online com atividades e recursos educativos. 

Monitoramento e avaliação contínua 

Implementar sistemas de monitoramento e avaliação contínua do progresso da alfabetização permite identificar áreas de melhoria e ajustar as estratégias conforme necessário. Ferramentas de avaliação diagnóstica podem ajudar a medir o desenvolvimento das habilidades de leitura e escrita dos alunos, fornecendo dados para intervenções precisas e oportunas. 

Parcerias público-privadas 

Estabelecer parcerias entre o setor público e o setor privado pode potencializar os recursos disponíveis para a educação. Empresas podem colaborar oferecendo tecnologia, infraestrutura, programas de voluntariado e financiamento para projetos educacionais específicos, contribuindo para a melhoria da alfabetização no Brasil. 

Enfoque na equidade educacional 

Para reduzir as disparidades regionais e socioeconômicas, é essencial adotar políticas que promovam a equidade educacional. Isso inclui alocação de recursos adicionais para escolas em áreas desfavorecidas, programas de incentivo à permanência escolar e iniciativas que visem a inclusão de grupos historicamente marginalizados. 

Inovação no ensino remoto 

Diante de crises como a pandemia ou desastres naturais, é importante desenvolver abordagens criativas para o ensino remoto. Investir em plataformas de educação online robustas, capacitar professores para o ensino à distância e garantir que todos os alunos tenham acesso a dispositivos e internet são medidas essenciais para manter a continuidade educacional. 

Ao implementar essas recomendações de forma integrada e coordenada, o Brasil pode avançar significativamente na construção de uma sociedade mais alfabetizada, reduzindo as desigualdades e oferecendo a todas as crianças a oportunidade de um futuro melhor. 

Leia mais:

Alfabetização e ensino remoto: dicas para ajudar os alunos em situações de emergência 

 

Os desafios impostos no ensino remoto emergencial são ainda maiores para as crianças que estão começando a escolarização, justamente quando estão sendo alfabetizadas (Foto: August de Richelieu/Pexels)

Os desafios impostos no ensino remoto emergencial são ainda maiores para as crianças que estão começando a escolarização, justamente quando estão sendo alfabetizadas (Foto: August de Richelieu/Pexels) 

Os eventos extremos que ocorreram na bacia do Guaíba, corpo hídrico localizado no Rio Grande do Sul, impediram quase 400 mil alunos de frequentar a sala de aula em maio de 2024. 

À semelhança da pandemia, a tragédia que deixou escolas embaixo d’água ressalta a importância de abordagens criativas e recursos adequados para dar continuidade ao trabalho educativo. 

Aqui estão algumas maneiras de tornar a alfabetização remota mais eficaz:  

  • Plataformas de educação online: utilize aplicativos e plataformas educacionais que ofereçam recursos específicos para a alfabetização, como jogos interativos, atividades de leitura e escrita, e vídeos educativos. Essas ferramentas podem fornecer uma experiência mais envolvente para os alunos. 
  • Aulas virtuais interativas: permita sempre que os alunos possam participar de atividades de leitura em grupo, discussões sobre histórias e práticas de escrita. O uso de ferramentas de videoconferência pode ajudar a criar um ambiente de aprendizagem colaborativo. 
  • Recursos adaptativos: adapte o ensino conforme o nível de habilidade de cada aluno. Isso pode incluir programas de aprendizagem personalizados ou atividades diferenciadas que atendam às necessidades individuais de cada criança. 
  • Suporte familiar: envolver os pais no processo de alfabetização remota é essencial. Fornecer orientações claras sobre como apoiar o aprendizado em casa e disponibilizar materiais educativos para uso familiar pode ajudar a reforçar o aprendizado fora do ambiente escolar. 
  • Feedback personalizado: converse com os alunos para ajudá-los a identificar áreas de melhoria e reforçar seus pontos fortes. Isso pode ser feito através de avaliações individuais, revisão de trabalhos escritos e interações 1:1 durante as aulas virtuais. 
  • Flexibilidade e empatia: reconheça que cada aluno pode enfrentar desafios únicos durante o ensino remoto e esteja preparado para oferecer apoio conforme necessário. Praticar a empatia e estar aberto a ajustar as estratégias de ensino pode ajudar a garantir que todos os alunos tenham a oportunidade de ter sucesso na alfabetização.

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