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Quais são os desafios de um gestor de programas EAD?

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gestão EAD

Fabrício Lazilha, diretor de EAD da PUCPR: gestão de cursos em pauta. Crédito: arquivo pessoal.

Uma das vantagens de fazer parte da comunidade EAD é ter um ótimo e competente círculo de amizades. Tenho dado voz a essas pessoas na minha coluna mensal no portal Desafios da Educação – inclusive, caso queira participar ou indicar alguém para ser entrevistado, escreva para ffuruno@grupoa.com.br.

Hoje, a conversa é com Fabrício Lazilha, diretor de EAD da PUCPR (Pontifícia Universidade Católica do Paraná). Falamos sobre os desafios de gerenciar programas de educação a distância.

Lazilha é formado em Computação e Pedagogia. Tem especialização em Análise de Sistemas e em Educação a Distância, e é mestre em Ciência da Computação. Além disso, tem longa experiência em EAD – passando por áreas de tecnologia da informação (TI), produção de conteúdos e multimídia, estúdios, secretaria acadêmica, financeiro, logística.

Para ele, todos os dias surgem novos desafios e de várias dimensões. E onde há desafios, há oportunidades. É isso que o motiva a continuar atuando e acreditando em EAD.

Com a ascensão da educação a distância e a unificação dos grandes grupos educacionais, deparamo-nos com vários estilos e modelos de gestão. Por isso os programas de EAD acabam sendo muito distintos – baseados no tamanho das operações, nas modalidades ofertadas, nas metodologias aplicadas e no investimento que cada IES aplica.

Para quem gosta de um desafio, a gestão dos cursos de EAD é um prato cheio.

Leia mais: Como a graduação EAD mudou a vida desta estudante

Quais são os conhecimentos que você julga serem essenciais para ser um bom gestor de programas EAD nas instituições de ensino? Eu entendo que ter visão holística, conhecer e vivenciar por completo o que chamamos de “processo de EAD”.

O aluno no centro desse processo mantendo relações com seus pares (presencial e virtualmente), com o polo e suas estruturas físicas e pessoais de apoio, com seus materiais de estudo, com seus professores (conteudista, formador e tutor) e coordenador e com as estruturas de apoio da sede: serviços acadêmicos, marketing, relacionamento, os processos que garantem o funcionamento da operação. São habilidades que só adquirimos vivenciando o processo em todas as etapas, conhecendo de fato uma operação de EAD.

Além disso, conhecer o mercado, a legislação vigente e estar atento ao que está acontecendo também é muito importante.

Você tocou no tema da minha próxima pergunta: trabalhando com tantas equipes multidisciplinares (de fornecedores, parceiros, polos e alunos), qual é a fórmula para o gestor dar conta de sua responsabilidade? A gestão por indicadores contribui muito neste processo, bem como ter as pessoas certas na funções certas.

Bons professores, bons materiais didáticos e plataformas tecnológicas por si só não garantem o sucesso do projeto. A gestão da aprendizagem precisa estar muito bem estruturada. Manter proximidade com a rede de polos, entender o que acontece em cada realidade e saber ouvi-los também é importante. De nada adianta um bom material, bons professores, lindos painéis de gestão dos resultados, análises SWOT etc., sem conhecer a realidade da sua rede.

Leia mais: Fagner de Deus: indicadores de gestão são diferenciais para IES

Você vem da área de TI e tem uma visão bem ampla da área acadêmica. Acredita que essa formação te auxilia a tomar melhores decisões? Ajuda, sim, mas eu também vim da sala de aula. Não atuei por muito tempo na indústria de software. Enquanto docente, buscava mecanismos e metodologias para potencializar a aprendizagem dos alunos. No ano 2000, disponibilizei um LMS aos alunos como extensão da sala de aula e deu muito certo. Mas acredito que o fato de ter transitado por diversas áreas também contribuiu muito para esta visão mais ampla do processo.

Qual é a sua experiência ou case mais interessante em termos de feedback dos alunos que cursam EAD?

É muito importante ouvir os alunos. É também importante informa-los que existem os canais oficiais e outros alternativos, e os gestores e professores precisam ficar atentos.

No ambiente virtual, o aluno tem o professor-tutor, o professor da disciplina e o coordenador de curso. No site, há a ouvidoria. Além disso, em nossa instituição, há um time na diretoria de marketing especialista em monitorar as redes sociais. O importante é dar retorno no menor tempo possível, independente do canal.

Eu costumo dizer que o primeiro desafio de um aluno de EAD é aprender a ser um aluno de EAD. Com isso, vem a necessidade de se desenvolver autonomia e motivação.

Nestes diversos meios que relatei, recebemos solicitações diversas. Mas é muito comum e gratificante recebermos contato dos alunos que foram aprovados em programas de mestrado, em concursos públicos etc.

Um caso que nos chamou a atenção foi de uma empresa que, após selecionar um ex-aluno em seu processo seletivo, justificou que tem buscado contratar profissionais egressos de cursos a distância em função do perfil diferenciados desses profissionais. Isso nos gratifica muito.

Leia mais: Vetar alunos formados a distância é controverso em pleno século 21

Quais são as principais mudanças que você percebe desde o período em que iniciou suas atividades na EAD? Além da evolução tecnológica, a legislação mudou bastante permitindo a ampliação da oferta. Com isso, o ambiente se tornou mais competitivo e desafiador, fazendo com que as instituições que ofertam programas de EAD busquem a qualidade no sentido mais amplo.

A decisão está com o estudante. Oferecer a melhor experiência de aprendizagem deve ser algo que motive diariamente a equipe multidisciplinar que conduz um projeto de EAD.

Ainda nessa visão analítica, qual é a sua percepção de futuro? Quais são os principais desafios que os profissionais da área vão enfrentar? Além do mercado competitivo na qual falei há pouco, eu destaco hoje o desafio de se consolidar as abordagens híbridas. Participei da construção de dois projetos muito bem pensados em IES diferentes e ainda sinto que o mercado ainda não percebeu os atributos e diferencias dessas propostas. Conheço projetos muito bem pensados que ainda não decolaram.

Qual conselho você daria aos gestores de EAD que estão assumindo essa posição agora? Além de ter a visão do processo como um todo e estar atento a legislação vigente e a concorrência, acredito ser fundamental conhecer a operação de perto, tanto na sede, quanto nos polos.

Sabendo como as coisas estão subsidia a tomada de decisões para que as ações sejam mais assertivas. Que tal, uma vez na semana, investir meio período observando e ouvindo os colaboradores dos diversos setores? Ou ainda ter uma agenda mensal de visita a algum polo observando diversos aspectos como estrutura física, atendimento, o funcionamento durante uma atividade ou aula presencial, ouvindo colaboradores, gestores e os alunos?

Fabrício Lazilha, parabéns pelo trabalho à frente da EAD da PUCPR e obrigada por conversar com o Desafios da Educação. Eu é quem agradeço o convite. Deixo uma reflexão para quem está a frente da gestão de programas de EAD: se diariamente novos desafios não surgirem, desconfie. As melhores oportunidades para fazer diferença estão ali. Nos vemos no 25º Ciaed, em outubro – onde participarei de alguns debates sobre abordagens híbridas junto com grandes lideranças e profissionais de diferentes instituições. Meu e-mail é fabricio.lazilha@gmail.com.

Leia mais: Em 2020, Brasil poderá ter até 17 cursos de mestrado EAD

Fernanda Furuno
Fernanda Furuno é cofundadora do Guia EAD Brasil, membro do conselho de inovação da Abed, do conselho da diretoria institucional da Anebhi e do conselho editorial do portal Desafios da Educação. Você pode falar com ela em @fernandafuruno.

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