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Todo estudante de Psicologia carrega dúvidas, anseios e expectativas ao iniciar sua formação. Para quem tem a missão de orientar esse percurso, o grande desafio é ensinar o que, em essência, só se aprende praticando.
É nesse território repleto de incertezas que Cartas a um Jovem Psicólogo se posiciona como um guia singular. Publicado em 2025 pelo selo Artmed, do Grupo A, o livro do doutor em Psicologia Clínica Jan Luiz Leonardi reúne 20 cartas escritas a partir de vivências reais, que tocam em questões muitas vezes negligenciadas pela formação tradicional: dilemas éticos, desafios com dinheiro, dificuldades de escuta, frustrações e medos de errar.
O livro dialoga com outras obras, em especial Cartas a um Jovem Terapeuta, de Contardo Calligaris. Da mesma forma que o psicanalista italiano, Leonardi busca fugir do manual puramente técnico e entrar no campo das reflexões existenciais, éticas e humanas de sua profissão.
Para isso, propõe um olhar pautado na Psicologia Baseada em Evidências. A abordagem consiste na interseção entre três domínios para uma prática considerada eficaz: a melhor evidência científica disponível, a expertise clínica do profissional e as características e preferências do paciente.
Mais do que trazer respostas, Cartas a um Jovem Psicólogo busca formular as perguntas certas — aquelas que permeiam não só o início da prática clínica, mas toda a trajetória de quem escolhe a Psicologia como atividade profissional.
Entre os temas abordados na obra, estão:
Desse modo, o livro funciona como um mapa, traçando os caminhos com maior probabilidade de êxito e sinalizando aqueles que, embora pareçam atraentes, podem se revelar verdadeiras armadilhas.
As cartas são organizadas em quatro seções estratégicas:
Essa divisão permite que o leitor percorra o conteúdo como uma jornada progressiva, da compreensão do cuidado humano até a gestão ética da carreira. Cada carta é cuidadosamente estruturada para estimular reflexão e aplicação prática, tanto para estudantes quanto para supervisores e docentes.
Um dos diferenciais da obra é a linguagem próxima do leitor. Leonardi escreve como se estivesse conversando pessoalmente com cada estudante, compartilhando experiências, dúvidas e medos. Isso cria uma relação de proximidade e facilita a internalização dos ensinamentos.
As cartas também mostram que a ciência não é distante ou abstrata. Pelo contrário: ela se apresenta como ferramenta para orientar decisões e garantir a segurança do paciente, reforçando a ideia de que técnica e cuidado humano são complementares e inseparáveis.
Na apresentação, o psicólogo Eslen Delanogare elogia o “aspecto carnal” com o qual cada carta foi escrita e destaca a abordagem humanizada de Leonardi. “Não se trata apenas de um acadêmico com doutorado em Psicologia Clínica pela Universidade de São Paulo (USP) ou de um clínico com décadas de experiência, mas de um ser humano que, antes de qualquer titulação ou expertise, repousa sobre medos, inquietações e expectativas, sobretudo quando o assunto é aquilo que há de mais importante na saúde: a esperança do paciente”, destaca.
Cartas a um Jovem Psicólogo é uma obra construída com base em evidências científicas, mas também o relato de alguém que enfrentou inseguranças na própria carreira e soube transformá-las em ensinamentos valiosos. Por isso, sua leitura é indispensável tanto para quem está começando a cursar Psicologia quanto para profissionais que buscam uma prática clínica mais sensível e eficaz.
Em entrevista exclusiva ao portal Desafios da Educação, o autor fala um pouco mais sobre as motivações que o levaram a escrever o livro.
A inspiração em Calligaris foi um ponto de partida importante, mas o que realmente me impulsionou foi uma inquietação antiga: como falar de psicologia clínica de forma honesta, acessível, sem máscaras e, ao mesmo tempo, com rigor científico? Sempre me incomodou ver a profissão cercada de discursos grandiosos, teorias infundadas e pseudoexplicações complexas.
Quis escrever um livro que desnudasse a prática, que mostrasse o lado humano do psicólogo, com suas dúvidas e erros, mas também com sua responsabilidade ética diante do sofrimento humano. Foi uma forma de dialogar diretamente com os estudantes e jovens psicólogos, oferecendo a eles aquilo que eu gostaria de ter recebido: uma conversa franca sobre a realidade da clínica.
Sim, e não só no lugar de um estudante. Voltei à minha trajetória profissional como um todo, às noites em que duvidei se era capaz, quando eu estava cheio de dúvidas e inseguranças. Revisitei também os anos em que fiquei deslumbrado com uma teoria e depois percebi o quanto havia de ilusão naquele encantamento. Procurei lembrar o que teria ajudado se alguém tivesse me dito com clareza.
Além disso, as cartas tiveram também como ponto de partida os milhares de alunos e os muitos supervisionandos que tive ao longo dos anos, pois as angústias deles ressoavam com as minhas de muitos anos atrás. Então, as cartas nasceram desse diálogo entre minha própria trajetória e as inquietações que encontro repetidamente em quem está entrando na profissão. Cada uma delas é uma tentativa de estender a mão a quem caminha por essas mesmas dúvidas, conduzindo passo a passo com a clareza que só o tempo, a experiência e muito estudo permitem.
Esse foi talvez o momento mais difícil da minha vida profissional. Muitas vezes eu não sabia exatamente o que fazer, como fazer, quando fazer. As ferramentas de intervenção me pareciam vagas, pouco definidas, quase intuitivas. Eu me via diante do paciente com a sensação de estar tateando no escuro, improvisando a cada passo, como se a terapia fosse sustentada mais pela esperança de acertar do que por um método confiável. Eu até via meus pacientes mudando, melhorando, mas não parecia que aquilo era resultado do meu trabalho ou do simples curso natural da vida. Eu pensava o tempo todo: “E se eu estiver enganando meus pacientes?”; “E se eu estiver enganando a mim mesmo?”.
A vontade de abandonar a clínica veio justamente desse desconforto. O que transformou minha visão foi o encontro com a ciência. Descobrir a Prática Baseada em Evidências, mergulhar em estudos rigorosos, entender que havia formas de distinguir entre o que funciona e o que é apenas tradição. Foi um choque e, ao mesmo tempo, um alívio: percebi que a clínica podia ser sustentada por pesquisa. Isso não diminuiu a importância da empatia, mas mostrou que a empatia precisa caminhar de mãos dadas com dados.
Difícil, sim, mas necessário. Existe um culto ao terapeuta iluminado, aquele que parece sempre saber o que fazer, que nunca erra e que se apresenta como uma espécie de guru "sabe tudo". Mostrar as imperfeições é uma forma de honestidade: dizer aos colegas que ele vai errar, que vai se sentir perdido, mas que isso não o desqualifica. O que o qualifica é a disposição de aprender com esses erros, de revisitar suas práticas e de se apoiar no conhecimento científico para seguir melhorando.
Se tivesse que escolher apenas um, eu diria que é o dilema de separar ciência de pseudociência. O estudante de Psicologia é bombardeado, desde o primeiro semestre, por discursos sedutores que prometem explicações da natureza humana e intervenções que parecem profundas e sofisticadas, mas sem comprovação de eficácia. Portanto, o dilema de um jovem psicólogo é decidir se vai ser alguém que trabalha com base em afinidades pessoais, convicções e tradições ou, então, alguém que oferece um atendimento que realmente transforma a vida do paciente, mesmo que isso exija mais estudo, paciência e humildade.
Sem dúvida. A empatia é indispensável, mas sozinha não é suficiente. Psicoterapia precisa ser um espaço de transformação, no qual o paciente encontra caminhos concretos para sair do lugar em que está. Parte da Psicologia produz conhecimento científico sobre o que ajuda e o que atrapalha para devolver ao paciente a autoria de sua própria história. A questão central que todos os psicólogos devem se fazer é: “Estou oferecendo o melhor cuidado possível para o meu paciente?” Se a resposta for “não”, é hora de refletir, aprender e evoluir. Toda prestação de serviços em saúde deve ser baseada na melhor ciência disponível, balizada pela perícia clínica e voltada para as necessidades de cada paciente.
Acredito que a formação precisa se sustentar em três eixos. O primeiro é o conhecimento científico: aprender a pensar criticamente, a avaliar pesquisas, a distinguir boa evidência de má evidência.
O segundo é o treino clínico supervisionado, em que o estudante tenha contato real com pacientes, sob orientação rigorosa, e desenvolva as várias habilidades terapêuticas que são necessárias para ser um profissional de excelência.
O terceiro é a reflexão ética: pensar constantemente sobre o impacto das suas escolhas, sobre os limites da sua atuação, sobre a responsabilidade que é ocupar o lugar de psicólogo. Formar psicólogos éticos e preparados significa formar profissionais que saibam dizer “não sei”, que saibam buscar informação antes de opinar, que sejam capazes de reconhecer tanto a potência quanto as limitações da psicoterapia. Ética, aqui, não é só um código escrito em livro; é uma prática cotidiana de humildade, autocrítica e compromisso com quem nos procura em sofrimento.
Livro: Cartas a um Jovem Psicólogo
Autor: Jan Luiz Leonardi
Editora: Artmed
Páginas: 124
Lançamento: 2025
Preço: R$ 80 (impresso) e R$ 64 (digital)
Por Redação
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