Quando falamos em cidadania, a definição mais básica do conceito tem a ver com a capacidade de exercer de forma consciente direitos e deveres dentro de um Estado. Mas, para além de uma definição puramente jurídica ou política, existem diversos “tipos” de cidadania, como a digital. Afinal, as relações sociais são cada vez mais mediadas pela tecnologia.
Se, de forma geral, esperamos que a escola ajude a formar cidadãos conscientes, críticos e capazes de atuar em mundo complexo, por que deixar de fora a instrução para conviver de forma saudável e respeitosa na internet?
A cidadania digital tornou-se um componente essencial em qualquer tipo de formação. A pesquisa TIC Kids Online Brasil 2021 indica que 93% dos brasileiros com idades entre 9 e 17 anos são usuários da internet, o que corresponde a 22,3 milhões de crianças e adolescentes conectados.
Essa estatística reforça a necessidade de os estudantes aprenderem a navegar com segurança na rede. Identificar e prevenir a disseminação de fake news, respeitar a privacidade e ficar atento aos direitos autorais são formas de participar ativamente na construção de um ambiente online mais saudável.
Para incentivar a cidadania digital nas escolas, é fundamental que as instituições trabalhem com um plano de educação digital que envolva toda a comunidade escolar no processo de ensino e aprendizagem.
O estudo TIC Educação de 2021 revelou que, entre 2019 e 2021 – os anos mais agudos da pandemia de Covid-19, que acelerou a implementação da educação a distância (EaD) –, o número de escolas públicas que ofereciam modalidades remotas de ensino saltou de 14% para mais de 90%.
Apesar dos benefícios que uma fonte inesgotável e renovável de informação tem para potencializar o aprendizado, nem tudo é positivo. O mesmo levantamento mostrou que situações como cyberbullying, assédio e uso excessivo de jogos e redes sociais ainda são um problema persistente.
Outro aspecto mencionado no TIC Educação é a pesquisa online por termos considerados prejudiciais para adolescentes e crianças. Muitos indivíduos entre 11 e 17 anos buscaram na internet assuntos relacionados a cenas de violência ou com muito sangue, formas de ficar mais magro e maneiras de se machucar. E é aí que a escola pode fazer a diferença.
“A conscientização do uso da internet por adolescentes envolve tanto seus direitos quanto seus deveres. Os currículos escolares têm o dever de incluir meios de aprendizagem para que os estudantes participem da revolução digital de maneira responsável e com integridade”, afirma Gabriel Salgado, coordenador da Matricial de Educação do Instituto Alana, que integra o movimento Agenda 227.
A Base Nacional Comum Curricular (BNCC) menciona o tema em pelo menos três de suas dez competências gerais. São elas: conhecimento, pensamento científico, crítico e criativo e cultura digital.
Além da BNCC, a Constituição Federal de 1988 também embasa o desenvolvimento dessa competência em sala de aula. Apesar de não especificar o ambiente digital, ela ressalta os aspectos pertinentes à prática no artigo 206.
“A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho”, diz o texto.
Salgado lembra que promover a educação digital dentro das salas de aula é um direito básico das crianças e adolescentes, estabelecido por lei. “Temos uma realidade cada vez mais mediada pela tecnologia. Excluir as crianças e os adolescentes desse processo ajuda na ampliação das desigualdades sociais, que já não são pequenas”, argumenta o educador.
Confira a seguir alguns passos úteis para estabelecer uma educação digital e tecnológica dentro da sala de aula:
Antes de ensinar os alunos, é importante que os professores estejam preparados para lidar com questões de cidadania digital. A TIC Educação 2021 mostrou uma dificuldade no uso da tecnologia por parte deles, sendo um desafio para 69% dos docentes da rede pública. No setor privado, o percentual é quase o mesmo, chegando a 65%.
Para reverter esse quadro, é preciso oferecer treinamento e capacitação ao corpo docente. Dessa forma, os professores entenderão como ensinar aos alunos o uso correto da tecnologia, com segurança e responsabilidade.
“Muitos cursos sobre o tema podem ser oferecidos. Entretanto, é necessário que seja levada em consideração cada realidade. Se todos os docentes forem colocados no mesmo patamar de capacitação e infraestrutura, a educação digital não será possivel”, alerta Salgado.
O conceito de cidadania digital deve estar incluído na grade curricular. Isso pode ser feito por meio de atividades práticas, como trabalhos em grupo, debates e simulações em que os alunos possam aprender a tomar decisões conscientes e éticas no mundo online.
“Quando acontecem problemas como o cyberbullying, por exemplo, é possível inserir tarefas escolares que dialoguem com o problema. Isso estimula a prática digital e a consciência social, além de habilidades socioemocionais, como a empatia ”, observa o coordenador do Instituto Alana.
As tecnologias educacionais são uma parte essencial do ensino, mas é importante que sejam responsáveis. As escolas devem selecionar cuidadosamente as ferramentas e plataformas que usam, garantindo que elas atendam aos requisitos de segurança e privacidade dos alunos.
Um dos objetivos da cidadania digital é tirar o estigma de “terra sem lei” que a internet carrega. Informações falsas, importunação e perseguição são algumas das práticas negativas que a competência quer diminuir e, possivelmente, extinguir.
“Os estudantes precisam pensar o ambiente virtual de forma crítica e consciente. Não basta mostrar ferramentas tecnológicas ou conexões entre atividades escolares e as redes sociais, por exemplo. É preciso fazê-los enxergar que, apesar de o mundo digital ser essencial para resolvermos problemas e mudarmos perspectivas, ele também tem regras importantes que precisam ser seguidas”, reforça Salgado.
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Por Nicoli Silveira
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