Como educar crianças em um mundo saturado de telas? “O Guia do Midiatra” tem a resposta

17 de setembro de 2025

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    As denúncias do influenciador Felca sobre a circulação de conteúdos que exploram a imagem de menores de idade na internet vêm gerando calorosas discussões sobre a regulação das redes sociais. Entretanto, há outro ponto que deve ser trazido para esse debate: a importância de educar as crianças para evitar o uso excessivo — e nocivo — das telas.

    Não há como ignorar que o avanço da conectividade e a popularização dos dispositivos móveis estão afetando a rotina das crianças, inclusive na primeira infância. Um levantamento publicado em fevereiro de 2025 pelo Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação (Cetic.br) revelou um salto expressivo no uso de celulares na faixa etária entre 0 e 2 anos. 

    Se em 2015 somente 9% das crianças dessa idade entravam na internet, esse percentual subiu para 44% em 2024. Na faixa etária de 3 a 5 anos, o aumento foi de 26% para 71%, e na de 6 a 8 anos, de 41% para 82%. 

    Os números mostram que a exposição às telas deixou de ser exceção e passou a ser regra já nos primeiros anos de vida, levantando uma questão urgente: como equilibrar os benefícios da tecnologia com a necessidade de preservar o desenvolvimento saudável das crianças?

    Responder a essa pergunta é uma das propostas de O Guia do Midiatra: Como Criar Crianças Saudáveis, Inteligentes e Respeitosas em um Mundo Saturado de Telas. Escrito pelo norte-americano Michael Rich, o novo lançamento do selo Artmed, do Grupo A, se propõe a auxiliar pais, educadores e formuladores de políticas públicas que buscam compreender e orientar o desenvolvimento infantil na era digital.


    Uma abordagem realista sobre as tecnologias digitais


    Michael Rich é médico de adolescentes no Boston Children’s Hospital e professor associado de Pediatria da Harvard Medical School, além de fundador do Digital Wellness Lab e da CIMAID (Clinic for Interactive Media and Internet Disorders). Tornou-se referência mundial por integrar conhecimento médico e psicológico, com uma compreensão profunda do impacto das mídias digitais no desenvolvimento infantil.


    Nesta obra, em parceria com a coautora Teresa H. Barker, Rich utiliza toda sua bagagem clínica, acadêmica e pessoal (como pai) para desenvolver uma abordagem realista sobre o uso de tecnologias digitais por crianças e adolescentes. Sem alarmismo, ele opta por uma perspectiva empática, que reconhece tanto os benefícios quanto os riscos associados a essas mídias.


    “A menos que você coloque seus filhos em um tanque de privação sensorial ou se junte a uma comunidade livre de tecnologia completamente isolada, eles estão expostos e interagem com um ambiente saturado de mídia”, reflete o autor.


    “Deletar a mídia é indesejável não apenas porque estaríamos negando a eles o uso positivo das ferramentas mais poderosas e eficazes já criadas para aprender, comunicar e se conectar com o mundo mais amplo, mas porque não estaríamos fornecendo a eles as habilidades para reconhecer e evitar as influências negativas da mídia que tememos.”


    O papel do midiatra


    O livro introduz o conceito de "midiatra" (adaptação do tradutor para o termo mediatrician, da publicação original) — profissional que combina conhecimento médico e das mídias digitais para orientar famílias e comunidades. 


    Poucos especialistas poderiam se apropriar tão bem desse termo. Antes de ser pediatra, Rich foi assistente de direção do cineasta japonês Akira Kurosawa. Segundo ele, “o poder da mídia de transformar vidas” o fez querer realizar filmes. Mas ele não parou por aí.


    “Foi o mesmo desejo de fazer uma diferença positiva na vida das pessoas que me levou à medicina. Completei o círculo, reconhecendo o poder da mídia em tela para mudar pessoas, especialmente jovens, que são seus usuários mais intensos e impressionáveis, e para aproveitar essa mudança a fim de promover seu bem-estar”, explica.


    Rich considera que, assim como cuidamos da saúde física e emocional das crianças, devemos cuidar também da saúde digital. Para isso, apresenta critérios clínicos para identificar o uso problemático de mídias interativas (PIMU; do inglês, problematic interactive media use) — jogos, redes sociais e pornografia — e descreve estratégias de intervenção familiar e terapêutica. 


    Ao mesmo tempo, reconhece os benefícios da tecnologia, mostrando como aprendizado, criatividade e engajamento social podem ser estimulados quando o uso das telas é proposital e monitorado. 


    A partir de instruções diretas e conselhos práticos que podem ser personalizados de acordo com as necessidades de cada família, o autor aponta caminhos para a ajudar os jovens a saírem de um ambiente rico em tecnologia como adultos felizes, bem informados e empáticos. Em um país como o Brasil, onde a população passa mais de nove horas por dia navegando na internet, essa é uma informação essencial, uma vez que hábitos digitais se formam cedo e tendem a se consolidar ao longo da vida.


    Tudo tem seu tempo — inclusive a tecnologia


    O livro oferece orientações adaptadas a diferentes fases do desenvolvimento, desde bebês até adolescentes. Cada estágio traz desafios e oportunidades específicas: para os mais jovens, atividades criativas que fortalecem curiosidade e interação; para crianças maiores e adolescentes, a alfabetização midiática e a capacidade de interpretar influências externas tornam-se fundamentais.


    Rich também discute como a mídia pode afetar a autoestima, a imagem corporal, a ansiedade e a exposição a conteúdos prejudiciais. Mais uma vez, aqui, a proposta é buscar o equilíbrio: em vez de demonizar as telas, o “midiatra” incentiva a criação de ambientes digitais positivos, com regras consistentes e momentos offline que promovam aprendizado e vínculo familiar.


    Entendendo o impacto das telas


    O ponto de partida de O Guia do Midiatra é a constatação de que o tempo de tela cresceu significativamente nos últimos anos, um fenômeno intensificado durante a pandemia. Crianças pequenas podem passar cerca de 49 minutos por dia em frente a dispositivos, enquanto adolescentes podem chegar a quase dez horas, especialmente em atividades recreativas ou sociais. 


    Rich ilustra essas estatísticas com casos clínicos, como o de Nicki, — uma adolescente “viciada” em smartphone deste o quarto ano —, revelando como o uso desregulado de telas afeta a rotina familiar, o sono e as relações sociais. Mas enfatiza que apenas limitar o tempo de tela não basta. 


    O que faz a diferença é compreender o contexto de uso: quando, onde, com quem e de que maneira a mídia é consumida. Momentos protegidos, como refeições, sono e atividades de vínculo familiar, são essenciais para promover o equilíbrio, assim como ensinar habilidades de autorregulação e alfabetização midiática.


    O livro é estruturado em quatro partes principais, cada uma abordando aspectos específicos do bem-estar digital infantil:


    1. O quê? - Aqui, Rich explora como as mídias digitais afetam o desenvolvimento físico, emocional, cognitivo e social das crianças, destacando a importância de compreender o impacto das tecnologias no cérebro em desenvolvimento e nas relações interpessoais.


    2. E então? - O autor discute problemas como o uso problemático de mídias, influências negativas das redes sociais, questões de imagem corporal e exposição a conteúdos prejudiciais. Para isso, apresenta evidências científicas que ilustram como o uso excessivo ou inadequado das tecnologias pode afetar a saúde mental e o comportamento dos jovens.


    3. E agora? - Em busca de uma solução para o problema, o médico propõe abordagens práticas para que os adultos possam ajudar os jovens a desenvolverem habilidades de autorregulação, estabelecerem limites saudáveis e utilizarem as tecnologias de forma construtiva. E enfatiza a importância de criar ambientes digitais positivos e de engajamento ativo na mediação do uso das mídias.


    4. Idades e estágios: um guia de bem estar digital - Por fim, Rich oferece recomendações específicas para diferentes idades, desde a infância até a adolescência, adaptadas às necessidades e capacidades de cada estágio de desenvolvimento. Uma versão em inglês está disponível neste link.


    Por que ler “O Guia do  Midiatra”?


    Sem a pretensão de ditar regras, O Guia do Midiatra funciona como um manual prático, apresentando exemplos e estratégias aplicáveis ao dia a dia.


    Com empatia, ciência e pragmatismo, o livro prepara educadores para orientar crianças e adolescentes, transformando desafios digitais em oportunidades de aprendizado e crescimento. Para profissionais da saúde e gestores, fornece conceitos que auxiliam na avaliação, intervenção e elaboração de programas de bem-estar digital.


    A linguagem é totalmente acessível, já que o objetivo da obra é alcançar um público que convive diariamente com esse desafio: pais, mães e responsáveis legais. Segundo Rich, sua experiência paterna foi fundamental para desenvolver o guia. Tanto que atribui ao convívio com os filhos grande parte de seu conhecimento como “midiatra”.


    “Como pai, tive sucessos e cometi erros. Mais importante: aprendi muito com meus filhos, assim como aprendi com meus pacientes”, revela. “Descobri que é possível criar bem na era digital, criar filhos felizes e saudáveis que são capazes de usar a mídia de maneiras positivas — e de desligar suas telas quando estão vivenciando experiências mais valiosas.”


    Livro: O Guia do Midiatra: Como Criar Crianças Saudáveis, Inteligentes e Respeitosas em um Mundo Saturado de Telas

    Autor: Michael Rich, com Teresa H. Barker

    Editora: Artmed

    Páginas: 440

    Lançamento: setembro de 2025

    Preço: R$ 88,20 (impresso) e R$ 70,56 (digital)


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