O papel da residência na formação médica

Luiz Eduardo Kochhann • 10 de novembro de 2021

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    Criada nos Estados Unidos, a residência em hospitais se espalhou pelo mundo como metodologia adequada para formar médicos especialistas . Segundo o estudo Demografia Médica , em 2019 o Brasil contava com 53.776 residentes, em 4.862 programas oferecidos por 809 instituições.

    Realizada pela Universidade de São Paulo (USP) e pelo Conselho Federal de Medicina (CFM), a pesquisa mostra que as áreas com mais profissionais são a Clínica Médica (11,3%), Pediatria (10,1%), Cirurgia Geral (8,9%) e Ginecologia e Obstetrícia (7,7%). Juntas, elas reúnem 38% do total de médicos especialistas.

    Instituída no Brasil em 1977, a residência é considerada uma pós-graduação destinada aos formandos em Medicina. Ao contrário do internato, que acontece nos meses finais da graduação, ela não é obrigatória. Ainda assim, 61,3% dos médicos brasileiros em atividade possuem uma ou mais especializações derivadas da residência.

    Como funciona uma residência

    Os programas duram entre dois e cinco anos, a depender da especialização escolhida. A regulamentação e o credenciamento dos cursos são tarefas da Comissão Nacional de Residência Médica (CNRM), órgão vinculado ao Ministério da Educação (MEC) – que atualmente reconhece 55 especialidades médicas e 59 áreas de atuação.

    O ingresso passa por um processo seletivo . Muitos deles, extremamente concorridos.

    É o caso das residências médicas do Sistema Único de Saúde (SUS) em São Paulo, onde especialidades como Dermatologia e Neurologia têm mais de 60 candidatos por vaga. No Hospital da Unimed em Belo Horizonte (MG), as áreas de Anestesiologia e Cirurgia Geral tiveram mais de 100 candidatos por vaga em 2020.

    A concentração de instituições e vagas no Sudeste ajuda a explicar tamanha concorrência. A região conta com mais da metade dos programas autorizados pelo CNRM. Além disso, o número de médicos em busca de especialização está em crescimento. Em 2019, mais de 17 mil profissionais iniciaram uma residência, alta de 81% na comparação com 2010.

    Os pós-graduandos recebem bolsas mensais de R$ 3.330,43. O montante geralmente vem de financiamento público. Já a carga de treinamento chega a 60 horas semanais, incluindo plantões de até 24 horas semanais, com direito a descanso de 6 horas após plantão noturno de 12 horas e uma folga semanal.

    Esse não é, entretanto, o único caminho para se tornar um médico especialista no Brasil. Uma saída é obter autorização de uma entidade representante . Instituições como a Sociedade Brasileira de Nefrologia, por exemplo, podem conferir títulos na área que, para fins legais, como concursos, têm o mesmo valor dos certificados do MEC. Para obtê-los, é necessário prestar uma prova e cumprir uma série de requisitos.

    Já as inscrições para a edição 2021 do Exame Nacional de Residência (Enare) começaram no dia 20 de outubro e terminaram em 8 de novembro. Mais de 3,2 mil vagas de residência das áreas médica, multi e uniprofissional foram oferecidas em 81 instituições distribuídas em todo o país. As provas acontecem em 12 de dezembro e o resultado final será divulgado em 24 de janeiro de 2022. O início do período de matrícula nas instituições é 1º de fevereiro.

    O Enare foi criado em 2020 para otimizar a seleção de residentes. Segundo a Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh), estatal vinculada ao Ministério da Educação (MEC) e responsável pelo exame, as universidades federais participantes da primeira edição tiveram menos vagas ociosas, eliminaram os custos e a carga burocrática da realização dos exames individuais e ampliaram a qualificação da seleção.

    Já para os candidatos, o exame unificado apresentou vantagens como custo menor, data única para a realização das provas, aplicação em todas as capitais e possibilidade de escolha de onde o residente queria atuar.

    Metodologia e desafios

    Por definição do estudo Demografia Médica, da USP e do CFM, a residência médica é caracterizada “por treinamento em serviços sob responsabilidade de instituições de saúde, com a orientação de profissionais médicos de elevada qualificação ética e profissional”.

    Ou seja, trata-se de uma metodologia de ensino de caráter prático. Por isso, o treinamento acontece majoritariamente dentro da rotina de atendimento dos hospitais , onde o residente terá contato direto com casos clínicos – tanto de baixa quanto de alta complexidade.

    “Existem outras maneiras de treinar médicos especialistas, algumas com carga horária menor, por exemplo. Mas a metodologia imersiva da residência é a melhor forma”, destaca o diretor médico do Jaleko e coordenador da comissão de residência médica do Hospital Federal da Lagoa, Felipe de Andrade Magalhães.

    Segundo ele, cada programa de residência possui necessidades distintas. A Neurocirurgia, por exemplo, exige mais infraestrutura das instituições de saúde, como instrumentos e tecnologias de ponta , se comparada com especialidades como a Psiquiatria.

    Por outro lado, algumas premissas devem ser encontradas em qualquer residência de qualidade. Entre elas, o atendimento a um leque amplo de pacientes e, portanto, o acesso do médico a uma variedade de doenças e suas causas. Conforme a especialidade, inclusive, esse critério é melhor preenchido por hospitais referências na área.

    Outro desafio das instituições diz respeito ao corpo clínico . “É fundamental que a unidade de saúde tenha uma equipe atualizada, motivada e de alta qualidade técnica que não trate o residente como mão de obra. E, sim, que tenha interesse genuíno em treiná-los e ensiná-los”, completa Magalhães.

    Por Luiz Eduardo Kochhann

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