Autores de “A Sala de Aula Digital”, Thuinie Daros e Fausto Camargo apontam caminhos para inovar na educação

Nicoli Silveira • 30 de agosto de 2022

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    As vivências de Thuinie Daros e Fausto Camargo como professores – inclusive, durante a pandemia – serviram de combustível para a criação de duas obras que retratam os desafios e propósitos dos docentes contemporâneos.

    Nos livros “A Sala de Aula Inovadora” e “A Sala de Aula Digital ”, ambos publicados na série Desafios da Educação pelo selo Penso, os autores aprofundam o conceito de inovação em escolas e instituições de ensino superior.

    Afinal, de contas, como alinhar as estratégias pedagógicas ao cotidiano de alunos nativos digitais ? Essa é uma das perguntas que Daros e Camargo respondem na entrevista abaixo, em um bate-papo sobre a construção dos seus trabalhos e as perspectivas para a educação do futuro.

    Livro “A sala de Aula Digital” último livro de Thuinie Daros e Fausto Camargo, publicado pelo selo Penso.

    A transformação digital da sala de aula é inevitável. Em que momento isso ficou claro para vocês?

    Thuinie Daros, gestora, palestrante, consultora e autora de diversos livros na área da educação.

    Thuinie – Precisamos observar o contexto social de forma mais ampla. Há desafios e problemas mundiais surgindo. A grande solução para isso é o advento das tecnologias.

    Fausto – Se pensarmos em como a tecnologia vem sendo incorporada no cotidiano, naturalmente, isso aconteceria com a educação em algum ponto. Essas evidências estão aparecendo há uns dez anos. Algo que só se acentuou com a pandemia.

    Thuinie – Então, vimos que uma sala de aula digital vai de encontro a essa transformação, pois possibilita que estudantes, professores e gestores consigam acompanhar e personalizar o processo de aprendizagem.

    Fausto – Porém, vimos ainda uma certa resistência em algumas instituições educacionais sobre a internet em sala de aula. Mas não há outra saída. É necessário aprendermos a lidar com esse ambiente mais aberto e utilizá-lo ao nosso favor.

    A sala de aula digital não é abandonar o conceito de presencial e apenas ficar no ambiente virtual. É ter um aparato tecnológico que dê suporte para que seja possível otimizar mais a educação e intensificar o ensino. Tudo isso sem esquecer da finalidade principal: a aprendizagem do estudante.

    Esse entendimento já está na visão dos professores e gestores atualmente?

    Thuinie – A preocupação já está presente. Não é à toa que há grandes legislações trazendo essa discussão, como a Base Nacional Comum Curricular (BNCC), as Diretrizes Curriculares Nacionais para os cursos de graduação, entre outras.

    Fausto – Realmente, há cada vez mais uma aderência a essa ideia sim. Porque a tecnologia está em todo lugar. Se não nos atualizarmos, seremos atropelados. Todos estão procurando soluções e saídas para, cada vez mais, integrarmos essa nova realidade nas instituições. A grande questão é como fazer isso.

    Thuinie – A verdade é que a tecnologia em si é um produto humano. Nós, como educadores, precisamos garantir todo esse conhecimento produzido dentro das instituições de ensino. Isso está diretamente ligado à função social do professor. A sala de aula digital pode ser um desafio por conta da desigualdade brasileira. Porém, ela não deixa de ser uma discussão pertinente dentro do nosso momento histórico.

    Quais problemas atualmente as salas de aula possuem que mostram a necessidade de uma inovação no ensino?

    Thuinie – De modo geral, os professores relatam uma dificuldade em capturar a atenção dos alunos e mantê-la durante as aulas. Isso levanta um questionamento: os estudantes estão perdendo sua capacidade de prestar atenção, devido ao excesso de tela, ou será que são as nossas metodologias o problema?

    Fausto – A partir desse questionamento, temos que primeiro entender o aluno e procurar entregar para ele o que é importante. Se formos pensar do ponto de vista de geração, temos uma renovação de hábitos e ideias das pessoas em ciclos, por exemplo, de dez anos.

    Thuinie – Os estudantes dessa geração possuem uma atenção mais sofisticada, ela não se volta mais para qualquer lugar, por conta dos estímulos atuais. Esse processo justifica a necessidade de uma sala de aula mais conectada e relacionada ao contexto atual.

    Fausto – Temos hoje o aluno que é nativo digital, que possui necessidades específicas. Não é inteligente eu querer forçar a barra para um lado se o aluno me mostra que possui uma outra forma de aprender. Portanto, se ele utiliza a tecnologia no dia a dia, eu também preciso utilizá-la na sala de aula.

    No livro, vocês listam 42 estratégias pedagógicas pautadas em metodologias ativas para renovar as salas de aula digitais e híbridas. Como chegaram a essas ideias?

    Thuinie – Nós somos docentes. Fazemos formações por todo o Brasil, buscando ajudar professores a se prepararem para os alunos de hoje e suas singularidades. Estávamos em um cenário pandêmico quando começamos a escrever o livro, mas já observamos o movimento de uma educação mais digital, independentemente da modalidade.

    Já tínhamos o livro “A sala de aula inovadora”, que contém estratégias para contextos menos digitais. A partir da chegada da crise sanitária, começamos a perceber as necessidades pertinentes àquele momento, como captura da atenção, tecnologias, etc.

    Fausto – Como essas 42 estratégias vem da nossa vivência enquanto docentes e nós apenas as condensamos, os professores já pegam essas ideias mais construídas. Durante a pandemia, nós continuamos a nossa rotina de trabalho testando possibilidades.

    Thuinie – Com tantos meios disponíveis, percebemos que havia uma necessidade de fazer a sistematização dessas experiências. Com isso, fornecer auxílios aos professores. Todas as estratégias são testadas, várias são criações nossas, outras são adaptadas. É por essa razão que elas são funcionais e versáteis.

    Fausto – Por exemplo, temos uma estratégia chamada de youtuber. Não quero que o estudante siga essa carreira. O propósito é que ele desenvolva capacidade de argumentação, de falar e interagir diante de uma câmera. Ao mesmo tempo em que eu o instigo a aplicar conhecimentos técnicos daquela área, incentivo o desenvolvimento das soft skills.

    Como uma sala de aula inovadora pode auxiliar na interação dos alunos entre si e com os professores?

    Thuinie – Hoje, a sala de aula deixou de ser apenas um espaço onde os alunos vão presencialmente. Ela passou a ser qualquer lugar onde se desenvolve a aprendizagem. Quando os professores passam a estar conectados por um propósito, acaba sendo construídas interações mais ricas e educativas. Isso independente do contexto, seja presencial ou a distância.

    Fausto – Existem diversas pesquisas que já trazem constatações sobre isso. Por exemplo, sabemos que as ferramentas digitais podem otimizar o tempo do professor entre 20% a 30%. Também já sabemos que mais de 70% dos jovens com mais de 16 anos sabem que a aprendizagem vai incorporar cada vez mais o uso de ferramentas digitais.

    Existe uma integração entre o online e o offline. Independentemente do local, seja presencial ou virtual, a sala de aula é digital. A aprendizagem acontece a partir da interação. E usar as ferramentas digitais não irá eliminar esse processo. Muito pelo contrário, irá potencializá-lo com o uso de ferramentas.

    Quais os principais resultados, a curto e longo prazo, da inovação dentro das salas de aula?

    Thuinie – A curto prazo, haverá uma melhora significativa na participação dos estudantes e na qualidade das interações. O aluno percebe quando existe um planejamento, a aprendizagem perpassa pelo estabelecimento de vínculos. Uma proposta de ensino voltada para as necessidades dos estudantes tende a motivá-los. Logicamente, os ganhos a longo prazo são o desenvolvimento das competências e habilidades mais amplas. O aluno não apenas vai adquirir o conhecimento, mas também vai aplicá-lo de maneira consciente, agregando a sua cidadania.

    Fausto – A educação há dez anos era um cenário totalmente diferente. No futuro, quem sabe dez anos também, será outro cenário completamente inédito. Teremos mudanças transformadoras e significativas.  Precisamos caminhar para uma inovação que consiga de fato desenvolver pessoas capazes de ter autonomia e aprender por si só. Precisamos de uma educação que consiga avançar, independente da sua modalidade.

    A inovação está apenas relacionada à tecnologia ou também trata de outros aspectos?

    Fausto Camargo, palestrante, professor, coordenador do Curso de Administração da Uniamérica e autor de diversos livros na área da educação.

    Fausto – Inovação na educação envolve aspectos mais globais. A tecnologia é um dos pilares, mas sozinha não resolve nada. Precisamos ainda do planejamento dos professores, para personalizar a aprendizagem do estudante.

    Thuinie – Não é um recurso em si. O maior ativo do professor da contemporaneidade é o domínio de estratégias e recursos que ele possui. Pensando nisso, a tecnologia pode ser usada para fomentar a inovação.

    Fausto – Contudo, precisamos ultrapassar a ideia de formar as pessoas apenas profissionalmente. Temos que desenvolver seres humanos decididos, comunicativos, entre outros aspectos importantes para a sociedade do futuro. As ferramentas tecnológicas estão aí para auxiliar nisso e no crescimento do aluno profissionalmente.

    Por Nicoli Silveira

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