Extensão curricularizada e evidências: panorama desde a regulação

Renata Perrenoud • 29 de julho de 2024

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    Após 2 anos da inserção oficial da extensão curricularizada nas obrigações legais das instituições de ensino superior, a proposta de aproximar a academia e o mercado de trabalho começa a ser institucionalizada no Brasil.

    Uma nova abordagem tem se consolidado nas IES e proporcionado a vivência prática dos alunos com desafios reais da comunidade. O impacto tem sido no desenvolvimento de competências e habilidades ao aplicar conceitos estudados em sala de aula, isso se dá com a criação de novos projetos e enfrentamento de desafios, com o objetivo de potencializar a aprendizagem.

    Antes da extensão curricularizada

    Antes da implementação da extensão curricularizada, as atividades de extensão eram frequentemente vistas como complementares à formação acadêmica, muitas vezes realizadas de forma voluntária ou extracurricular .

    Embora essas atividades fossem reconhecidas por seu valor educativo e social, não havia uma integração formal e sistemática com o currículo dos cursos de graduação. Antes, era uma oportunidade adicional para os alunos e comunidade que se envolviam no projeto, mas não era uma parte obrigatória de sua trajetória acadêmica.

    A extensão universitária consistia em atividades pontuais como cursos, palestras, atividades focadas em grupos específicos das comunidades ou parcerias realizadas pela IES desvinculadas da matriz curricular.

    O objetivo era promover o engajamento comunitário, mas nem sempre a aplicação prática do conhecimento e a participação nessas atividades era obrigatória para os estudantes. Isso limitava a abrangência e o impacto das ações de extensão, que dependiam do interesse individual professores e alunos e da disponibilidade de recursos das instituições.

    A falta de integração com o currículo resultava em diversos desafios, já que a extensão era frequentemente vista como uma atividade extracurricular e não recebia a devida importância e valorização acadêmica. Esse cenário começou a mudar com a introdução da extensão curricularizada, que visa resolver essas questões e promover uma formação mais integral dos estudantes.

    Depois a extensão curricularizada

    Com a introdução da extensão curricularizada, as atividades de extensão passaram a ser formalmente incorporadas ao currículo acadêmico, representando no mínimo 10% da carga horária total do curso e tornando-se componentes obrigatórios na formação dos estudantes.

    Essa mudança foi impulsionada por uma Resolução do Ministério da Educação (MEC), que destaca a importância da extensão universitária para a formação integral dos alunos. Através da aplicação prática dos conceitos estudados, a extensão curricularizada integra o conteúdo acadêmico com problemas reais da comunidade , fortalecendo os vínculos entre universidade e sociedade.

    Assim, o estudante consegue ao atuar em práticas reais, se conectar com sua área profissional antes mesmo do término de seu curso.

    Protagonismo do estudante

    A extensão curricularizada também busca fomentar a aprendizagem ativa, desenvolvendo o protagonismo dos estudantes. A participação sistemática em programas e projetos extensionistas facilita o desenvolvimento de competências transversais e específicas de cada profissão, preparando melhor os egressos.

    Formação interdisciplinar

    É igualmente importante promover a formação interdisciplinar e entre cursos, oferecendo atividades, programas e projetos de forma integrada. Isso incentiva ações complementares, essenciais para o desenvolvimento do pensamento crítico e da formação integral dos estudantes . Estimula-se o raciocínio crítico, a habilidade argumentativa, a curiosidade e o debate fundamentado entre os alunos.

    A correlação de conteúdos multidisciplinares de maneira eleva o nível de conhecimento dos alunos e por fim, desenvolve de forma sustentável o tripé ensino, pesquisa e extensão de maneira indissociável à matriz curricular.

    Mas o que diz o MEC?

    O MEC, através da resolução número 07 de dezembro de 2018, estabelece que pelo menos 10% da carga horária dos cursos de graduação deve ser dedicada a atividades de extensão. Essas diretrizes visam garantir que todos os estudantes participem de ações que promovam a interação entre a universidade e a comunidade, abordando questões sociais, culturais, econômicas e ambientais relevantes.

    Para efeito de regulação é preciso trazer evidências do processo de aprendizagem através dessa prática.

    Quais são as evidências obrigatórias?

    As IES devem coletar evidências que demonstrem a participação e o aprendizado dos estudantes nas atividades de extensão. Essas evidências podem incluir relatórios de projetos, registros de atividades, feedback da comunidade e autoavaliações dos alunos.

    Ainda como evidências podemos citar feedback dos stakeholders, e desenvolvimento de produto que beneficie a comunidade envolvida. O importante é documentar de maneira clara e objetiva como as atividades de extensão contribuem para o desenvolvimento de competências específicas e para a formação cidadã dos estudantes.

    Como evidenciar a extensão curricularizada

    Relatórios de Projetos: Documentação detalhada das atividades realizadas, objetivos alcançados e impacto na comunidade.

    Registros de Atividades: Relato e registro de participação, horas dedicadas e descrição das tarefas executadas.

    Feedback da Comunidade: Avaliações e testemunhos de membros da comunidade que interagiram com os projetos de extensão.

    Autoavaliações dos Alunos: Reflexões dos próprios estudantes sobre o aprendizado adquirido e as competências desenvolvidas durante as atividades de extensão.

    Leia outra coluna do Impactando a educação:
    Políticas públicas como fundamento de transformação

    Situação atual da extensão curricularizada

    A adoção da extensão curricularizada tem impactado em mudanças significativas para as IES, exigindo uma reestruturação curricular e a criação de mecanismos para integrar efetivamente as atividades de extensão no processo educativo.

    Nem todas as instituições conseguiram se adequar imediatamente, enfrentando desafios como a falta de recursos , a necessidade de formação de professores e a criação de parcerias com a comunidade. Muitas IES ainda estão em processo de adaptação, desenvolvendo estratégias para incorporar a extensão curricularizada de maneira eficaz. Algumas instituições têm se destacado na implementação dessas diretrizes:

    Um caso de sucesso é o da Faculdade CENSUPEG, e a Diretora de Inovação Acadêmica, professora M.Sc. Andreia Schley contextualiza sua realidade:

    “Com a curricularização conseguimos fazer uma conexão ainda mais real e profunda com a comunidade, especialmente e nos locais onde temos polos EAD. Hoje a curricularização trouxe a comunidade para dentro da IES e levou a IES para dentro das instituições e diferentes espaços sociais. Nos tornamos referência em empreendedorismo social com alunos que constroem soluções. Investimos em metodologias ágeis e desfiamos os estudantes a criar e experimentar. A maior competência desenvolvida nesse processo foi a capacidade de identificar problemas reais dos mais simples aos mais complexos em todos os ambientes que o estudante convive: profissional, pessoal, social…

    Tudo o que é novo é desafiador. Encontramos algumas barreiras, especialmente o medo do novo, de não ter um modelo a ser seguido. Fizemos ajustes, simplificamos alguns processos, mas não abrimos mão do processo de criatividade e de autonomia dos estudantes. Hoje já temos até reconhecimentos sociais diversos: homenagens em câmara de vereadores; melhorias em empresas; novos empreendimentos dos estudantes; campanhas sociais diversas.

    Os estudantes estão cada dia mais conectados com a instituição e com sua comunidade o que tem sido um grande diferencial quando falamos em graduação EAD. Muitos, a partir dessas atividades de extensão que ocorrem através do PIPA – Projeto Inovador Profissional de Aprendizagem conquistaram oportunidades de trabalho, renda e reconhecimento social. Mas ainda temos muito a fazer para encantar nossos estudantes e construir experiências onde eles possam protagonizar. Estamos caminhando confiantes…”

    Na Faculdade CENSUPEG, o PIPA tem como ferramenta de suporte o GPA (Gestão de Projeto Acadêmico) da Plataforma A para desenvolvimento dos projetos e registrar as evidências desse processo e de aprendizagem.

    Entre os principais desafios enfrentados pelas IES está a eficiente documentação das evidências de como a extensão curricularizada é implementada, incluindo os processos e os resultados de aprendizagem. Nesse contexto, uma plataforma como o GPA se torna essencial para facilitar esse registro e garantir a qualidade e a transparência da extensão curricularizada.

    Segundo a Professora Simone Vianna, Head de Desenvolvimento Docente, Pesquisa e Extenção na UniFECAF, “ implantar a Extensão Curricularizada significou mais uma das ricas oportunidades de aprendizado com impacto. Entendemos como um instrumento valioso para mobilizar o aprendizado acadêmico, diante dos desafios de nossos entornos e, até mesmo, da sociedade.

    Exemplos da conexão da academia com a comunidade

    Projeto de Saúde Comunitária:

    Estudantes de enfermagem e medicina participam de campanhas de prevenção e promoção da saúde em comunidades carentes, desenvolvendo habilidades clínicas e de comunicação, além de fortalecerem o compromisso social.

    • O que fazer: Os alunos realizam visitas domiciliares, organizam palestras sobre prevenção de doenças e participam de feiras de saúde. Essas atividades permitem que eles apliquem conhecimentos teóricos em um contexto prático, aprendendo a lidar com diferentes situações e a adaptar suas abordagens de acordo com as necessidades da comunidade.

    Oficinas de Empreendedorismo

    Alunos de administração e economia por exemplo, podem organizar oficinas para pequenos empreendedores locais, ajudando-os a desenvolver planos de negócios, estratégias de marketing e gestão financeira, ao mesmo tempo em que aplicam e ampliam seus próprios conhecimentos.

    • O que fazer: Durante as oficinas, os estudantes atuam como consultores, oferecendo suporte técnico e orientações práticas para os empreendedores. Eles aprendem a identificar oportunidades de mercado, a formular estratégias de negócios e a implementar práticas de gestão eficiente.

    Programa de Educação Ambiental:

    Estudantes de biologia e ciências ambientais conduzem atividades de conscientização e preservação ambiental em escolas e comunidades, promovendo a educação sustentável e aprendendo sobre gestão de projetos e engajamento comunitário.

    • O que fazer: Os alunos desenvolvem materiais educativos, organizam campanhas de reciclagem e plantio de árvores, e promovem debates sobre sustentabilidade. Essas atividades fortalecem suas habilidades de comunicação, organização e liderança, além de promoverem a conscientização ambiental na comunidade.

    No contexto atual das IES e adaptação para oferecer uma extensão curricularizada de qualidade, é importante sistematizar os processos, planejar, formar e dar suporte aos professores. Usar ferramentas que possam registrar de forma clara as evidências de todas as etapas dos resultados potencializa este processo. Assim, teremos alunos engajados e conectados com o mercado de trabalho.

    Por Renata Perrenoud

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