Para Brasil voar alto no esporte, é preciso investimento e incentivo nas escolas

Danielly Oliveira • 25 de agosto de 2021

Lorem ipsum dolor sit amet, consectetur adipiscing elit

Acompanhe

    Muitos brasileiros se encantaram com a performance da skatista Rayssa Leal em Tóquio. Aos 13 anos, “fadinha” realizou um feito notável: tornou-se a brasileira mais jovem a participar e a ganhar uma medalha nos Jogos Olímpicos.

    Uma semana depois, de volta ao Brasil – e à sala de aula –, a medalhista de prata na modalidade “skate street” expressou gratidão em uma rede social : “A minha escola sempre me incentivou e esteve ao meu lado durante toda minha trajetória”.

    Manifestações como essa, infelizmente, são raras no Brasil – é difícil ver um atleta atrelar seu desempenho ao suporte escolar. Afinal, o país não costuma investir grandes somas em esporte nas escolas.

    Como o governo apoia o esporte

    Segundo o governo federal, o investimento anual no esporte é de R$ 750 milhões. Esse valor é destinado majoritariamente para atletas olímpicos e paraolímpicos – através da Lei das Loterias, do Bolsa Atleta e Lei de Incentivo ao Esporte.

    Dos 302 atletas olímpicos convocados ao Japão, 242 (80%) fazem parte do programa Bolsa Atleta. Ainda assim, 41 fizeram algum tipo de vaquinha (financiamento coletivo) para arrecadar dinheiro. E 33 atletas não se sustentam unicamente com o esporte.

    Das 21 medalhas conquistadas pela delegação brasileira nas Olímpiadas de Tóquio, sete foram de ouro, seis de prata e oito de bronze. O Brasil ficou na 12ª colocação do ranking geral.

    O primeiro lugar ficou os Estados Unidos. Com um total de 113 medalhas, foi a terceira vez consecutiva que o país garantiu a liderança. Como? Investimento e incentivo ao esporte nas instituições de ensino.

    A cultura esportiva é uma tradição nos EUA. Há décadas as escolas e universidades americanas investem na prática de diversas modalidades. Não só como política educacional e estilo de vida, mas também como marketing, para atrair estudantes. Mesmo quem não se torna um atleta profissional pode encontrar várias opções de trabalho na área. Por lá, a tabelinha entre esporte e educação sempre rendeu frutos.

    A realidade é bem diferente no Brasil. Como o investimento financeiro em esporte se concentra nos atletas de alto rendimento, a formação de talentos entre crianças e adolescente termina prejudicada. Para voar alto como as grandes potências olímpicas, é preciso investimento e incentivo.

    “O que nós precisamos é de política de estado , com planos e metas a serem cumpridas”, comentou em um evento recente Diogo Silva, ex-atleta olímpico e campeão pan-americano no taekwondo. “O discurso de usar o esporte para tirar a molecada da rua é ultrapassado. A gente precisa pensar no esporte como carreira e profissão. Ele emprega não só o atleta, mas cerca de 30 tipos diferentes de profissionais envolvidos.”

    Estudantes se divertem em quadra: pesquisa mostra que esportes e educação funcionam melhor juntos.

    Estudantes se divertem em quadra: pesquisa mostra que esportes e educação funcionam melhor juntos. Crédito: Senado.

    O esporte nas escolas brasileiras

    A Base Nacional Comum Curricular (BNCC) seleciona as práticas corporais em seis unidades temáticas que aparecem ao longo de todo o ensino fundamental . Segundo o documento, é essencial que os alunos tenham contato com o maior número de modalidades de esporte nas escolas.

    As seis unidades são:

    1. Brincadeiras e jogos: Bolinhas de gude, amarelinha, elástico, taco, queimadas e pega-pegas;
    2. Esportes: Vôlei, basquete, futebol, arco e flecha, beisebol, críquete, rúgbi, tênis e squash, entre outras;
    3. Ginástica: Ginástica artística, rítmica, acrobática, aeróbia, funcional, pilates, Reeducação Postural Global (RPG), ioga e tai chi chuan;
    4. Danças: Balé, funk, frevo, samba, jongo, coco e ciranda;
    5. Lutas: Capoeira, huka-huka, luta marajoara, judô, aikido, jiu-jítsu e muay thai;
    6. Práticas corporais e aventuras: Corrida orientada, corrida de aventura, rapel, tirolesa, arborismo, parkour, skate, patins e bike.

    Essas práticas, contudo, não estão na realidade da maior parte das escolas brasileiras. De acordo com o Censo Escolar de 2020 , somente 34% das escolas públicas têm quadra de esportes. Nas instituições privadas, o percentual é de 44%.

    Instituições que contemplam todos os níveis de aprendizagem, até o ensino médio, são as que oferecem mais infraestrutura esportiva : 77% delas têm quadra de esportes. Nas escolas de ensino fundamental, o percentual é de 44%. No ensino infantil, 26%.

    Esses dados talvez revelem por que o Brasil, apesar dos relevantes programas de apoio a esportistas de alta performance, não consegue obter melhor desempenho nos Jogos Olímpicos.

    Os especialistas são unânimes: quando o Brasil transformar o esporte em política de Estado e investir na estrutura das escolas, capacitar professores e incentivar as instituições de ensino superior a fazerem o mesmo, muitos atletas surgirão.

    E os que não chegarem a ser atletas profissionais? Terão uma vida melhor . De acordo com o Ministério da Educação (MEC), a prática de esportes afasta o adolescente das drogas, evita a evasão escolar , aumenta a capacidade cognitiva, traz benefícios consideráveis à saúde e gera cooperação e socialização entre os estudantes.

    Além disso, as escolas que oferecem mais esportes tendem a ter alunos mais bem-sucedidos em testes e provas, segundo uma pesquisa conduzida por professores americanos. Em outras palavras: esportes e educação funcionam melhor juntos.

    No início de agosto, o governo entregou ao Congresso Nacional uma medida provisória que revoga o Bolsa Família e cria um novo programa – o Auxílio Brasil –, dividido em diferentes benefícios. Entre eles o “Auxílio Esporte Escolar”, destinado a estudantes com idades entre 12 e 17 anos incompletos que se destaquem nos Jogos Escolares Brasileiros e já sejam membros de famílias beneficiárias do núcleo básico do Auxílio Brasil.

    “Se não investirmos em política pública para esportes escolares, continuaremos a ter delegações de atletas que são vitoriosos só por terem insistido no ramo”, disse Jorge Spinetti, doutor em gestão pública com especialização na área esportiva, à newsletter Lupa Educação.

    Por Danielly Oliveira

    Gostou deste conteúdo? Compartilhe com seus amigos!

     Categorias

    Ensino Superior

    Ensino Básico

    Gestão Educacional

    Inteligência Artificial

    Metodologias de Ensino

    Colunistas

    Olhar do Especialista

    Eventos

    Conteúdo Relacionado