Se a tecnologia avança em velocidade assustadora, o que dizer da inteligência artificial (IA)? Semanas atrás, o advento do ChatGPT , uma ferramenta capaz de escrever textos originais em questão de segundos, virou o assunto do momento entre cientistas e educadores.
Mal deu tempo de digerir a novidade e sua criadora, a empresa norte-americana OpenAI, já anunciou que pretende substituí-la por uma versão turbinada. Enquanto isso, a concorrência corre atrás para desenvolver modelos ainda mais sofisticados, como o Chatsonic.
O fato é que a IA deu um salto na última década. Em áreas como a educação, por exemplo, os progressos são incontestáveis, especialmente por possibilitar a personalização do ensino. E, mesmo que a capacidade de aprendizado das máquinas cause um certo medo, não há como negar o fascínio que o assunto exerce sobre a maioria das pessoas.
No caso dos psicólogos britânicos Christine Eysenck e Michael W. Eysenck, essa curiosidade, aliada ao interesse profissional, deu origem a
“Inteligência artificial x humanos: o que a ciência cognitiva nos ensina ao colocar frente a frente a mente humana e a IA” , novo lançamento da Artmed, selo editorial do Grupo A.
Segundo os autores, o livro é fruto do lockdown motivado pela pandemia, quando tiveram muito tempo para refletir sobre um dos grandes dilemas da atualidade: afinal, a inteligência artificial é superior à nossa?
Em busca de uma resposta, a dupla apresenta uma visão diferente a respeito do tema, que já conta com uma ampla bibliografia, mas sob a perspectiva de especialistas em tecnologia. Aqui, o objetivo é utilizar o conhecimento científico sobre a cognição humana para avaliar suas capacidades e limitações diante da IA – que, sim, também é suscetível a erros.
Antes de chegar ao cerne da questão, Christine e Michael preparam o terreno para o leitor, fornecendo uma ampla perspectiva sobre a evolução da inteligência artificial. Com uma linguagem leve, falam sobre os “primeiros passos” da computação – do algoritmo de máquina desenvolvido pela britânica Ada Lovelace , ainda no século XIX, às ideias de seu compatriota Alan Turing , responsável por decifrar um código criptografado da máquina Enigma , usada pelos nazistas na Segunda Guerra Mundial.
Também há referências aos primeiros robôs e à supremacia da IA em jogos complexos. Quem não se lembra da famosa batalha de xadrez entre o supercomputador Deep Blue, da IBM, e o russo Garry Kasparov , na década de 1990? A derrocada de um dos maiores enxadristas do mundo e outros “fracassos” do homem são avaliados de forma crítica, mostrando que, em geral, as máquinas levam vantagem por sua capacidade de absorver o conhecimento humano.
Bastante completa (e ricamente ilustrada), a primeira parte do livro cumpre a função de apresentar o tema a quem não está familiarizado com o universo tecnológico. Mas o grande mérito de “Inteligência artificial x Humanos” é o olhar perspicaz do casal Eysenck, principalmente quando estabelece comparativos entre diversas atividades desenvolvidas por máquinas e pessoas.
Da geração de textos à realização de cirurgias, os psicólogos consideram o desempenho de cada forma de inteligência e, com base em estatísticas e seus conhecimentos em ciência cognitiva, conseguem avaliar em quais tarefas seremos superados pela IA e em quais isso dificilmente ocorrerá. Em grande parte dos casos, nossas vantagens e fraquezas estão reunidas em qualidades muito particulares, como o potencial de evolução do cérebro, alterações de estado emocional e a capacidade de aprender.
“Aceitamos que a singularidade humana não está nas habilidades que nós temos e as outras espécies não têm, mas sim na interdependência de nossas habilidades. (…) Nossas mentes são muito mais flexíveis do que as de qualquer outra espécie porque temos vários processos cognitivos e estruturas que interagem de forma cooperativa”, explicam os autores.
Outro ponto importante da obra envolve o debate sobre questões morais e a forma como os seres humanos supostamente devem tratar os robôs. Na mesma linha de discussão, está a questão ética sobre o uso de IA – que, como tudo que envolve tecnologia, pode trazer avanços inestimáveis para áreas como medicina e educação, mas também tem o potencial de se transformar em um instrumento de guerra.
A conclusão (e isso não é nenhum spoiler, visto que Christine e Michael deixam sua posição clara na introdução do livro) é de que pessoas e máquinas têm pontos fortes e limitações e, juntas, podem combinar e integrar seus respectivos trunfos.
“A inteligência humana é flexível, prudente, imprecisa e empática e, às vezes, criativa, mas lenta a propensa a erros. Por sua vez, o processamento da IA é consistente, rápido e eficiente”, afirma a dupla de psicólogos, que defende o aprendizado bidirecional da inteligência híbrida: “Os sistemas de IA aprendem conosco e nós aprendemos com eles”.
“Inteligência artificial x humanos” é uma obra fundamental em tempos de evolução acelerada da IA. E, por isso, mais do que recomendada a psicólogos, educadores e todos aqueles que desejam se aprofundar nos processos cognitivos da aprendizagem, sejam eles humanos ou artificiais.
Editora: artmed
Ano: 2023
Páginas: 360
Preço: R$ 108,00 (impresso) e R$ 86,40 (e-book)
Por Daniel Sanes
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