O Brasil vive um desafio crônico no setor de saúde: a falta de médicos em regiões estratégicas, especialmente no Norte e Nordeste. Nessas áreas, a proporção de médicos por mil habitantes é bem abaixo dos 3,3 recomendados pela OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico).
Segundo levantamento do Conselho Federal de Medicina (CFM) , a maioria (mais de 290 mil) dos profissionais está concentrada somente nas capitais, atendendo a 24% da população brasileira . Essa escassez, aliada à insuficiência de cursos de Medicina, cria um ciclo vicioso que agrava a crise de atendimento médico.
“O Brasil, com 215 milhões de habitantes, ainda deixa cerca de 72 milhões de pessoas sem acesso à atenção básica de saúde”, lamenta Gustavo Hoffmann , especialista em metodologias ativas, consultor da Plataforma A e colaborador de projetos educacionais como a SAGAH.
Felizmente, um novo horizonte está se abrindo com o Programa Mais Médicos (PMM) , que oferece oportunidades para instituições de ensino superior (IES) que desejam atuar diretamente na formação de médicos e, assim, transformar o cenário.
O Ministério da Educação (MEC) e o Ministério da Saúde mapearam 116 regiões de saúde no País onde a quantidade de médicos por habitantes está abaixo da média da OCDE.
Nessas localidades, também há uma oferta insuficiente de cursos de Medicina, o que perpetua o problema: sem a formação de novos profissionais, não há como melhorar a saúde pública .
Para quebrar esse ciclo, o governo federal lançou um edital dentro do PMM , incentivando as IES a apresentarem projetos de abertura de cursos de Medicina nessas regiões carentes.
Conforme retificação do edital , publicada em 4 de julho no Diário Oficial da União , a apresentação de propostas para autorização de novos cursos pode ser feita até o dia 4 de outubro. A submissão deve ser feita por meio da plataforma MM Avaliação , do Ministério da Educação.
Mesmo que uma cidade não esteja entre as mapeadas, as IES podem submeter até dois projetos em todo o País, o que amplia ainda mais o alcance da iniciativa.
O ministério tem permitido abrir cursos só em municípios com menos de 3,73 médicos por mil habitantes — a taxa segue recomendação da OCDE
Para as IES que desejam ingressar no PMM, é fundamental garantir que o curso ofereça uma formação integral, atendendo tanto às exigências técnicas quanto sociais.
Segundo Hoffmann, alguns elementos são indispensáveis: “É necessário fazer algo com qualidade, utilizando metodologias ativas, laboratórios e simuladores de alta complexidade. Com isso, é possível ter um curso que seja eficiente tanto academicamente quanto em termos de retorno financeiro”.
Para criar novas oportunidades de formação médica, é necessário seguir o processo definido em conjunto pelo MEC e pelo Ministério da Saúde. Confira a seguir:
Mapeamento das regiões elegíveis: o primeiro passo é verificar as 116 regiões de saúde onde a relação entre médicos e habitantes está abaixo da média e onde ainda não há oferta de cursos de Medicina. Mesmo que a cidade não esteja listada, as IES podem submeter até dois projetos em qualquer localidade do País.
Desenvolvimento do projeto: a construção de um projeto bem-sucedido para o programa Mais Médicos exige uma proposta robusta e minuciosa, que se desdobra em vários elementos-chave para assegurar uma educação médica de excelência. Contratar uma consultoria é uma estratégia eficaz para garantir que essa etapa seja realizada com celeridade.
Experiências práticas: invista em laboratórios físicos equipados com tecnologia de ponta e simuladores de última geração, além de integrar laboratórios virtuais. Estes ambientes digitais oferecem simulações interativas e cenários clínicos virtuais, permitindo aos alunos explorar e resolver situações complexas da prática médica em um espaço imersivo e acessível.
Inovação curricular: adote metodologias que coloquem o aluno no epicentro do processo de aprendizado. Utilize técnicas que incentivem a resolução de problemas, a simulação de cenários clínicos e a participação ativa, capacitando os futuros médicos a enfrentar problemas práticos com confiança e competência.
Para resolver eventuais desconformidades na apresentação de propostas, a Secretaria de Regulação e Supervisão da Educação Superior do Ministério da Educação (SERES/MEC) publicou um manual para anexação de gráficos, planilhas e/ou figuras , referentes ao mérito das propostas.
Abrir um curso de Medicina, além de atender a uma demanda urgente, pode ser altamente rentável. Ao priorizar a qualidade acadêmica, as IES têm a oportunidade de oferecer uma formação humanística e ética, ao mesmo tempo em que garantem um retorno financeiro positivo.
Mas a questão vai além. A responsabilidade da universidade aumenta a partir do momento que cria e concentra um grande número de conhecimentos essenciais para o desenvolvimento local e regional. “O ensino superior desempenha um papel social fundamental”, ressalta Hoffmann, enfatizando que essa é uma oportunidade com potencial de “construir um futuro com mais saúde”.
Por Redação
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