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Embora ainda pouco representativos no ensino superior, os cursos ligados ao agrossistema registraram um crescimento acima de 1.000% em dez anos. Entre 2013 e 2023, as matrículas presenciais na área aumentaram 26%, impulsionadas por um avanço de 43,2% na rede privada e 12,5% na pública.
O movimento contrasta com a queda de 29,1% nas matrículas presenciais de outras áreas. Na educação a distância (EaD), o crescimento foi ainda mais expressivo: 259,5%, com destaque para a rede privada, que registrou alta de 271,5%.
Os dados são do Mapa do Ensino Superior no Brasil, publicação anual do Instituto Semesp, reconhecida como uma das principais fontes de análises e estatísticas sobre a educação pública e privada no Brasil.
Neste texto, exploramos os insights da 15ª edição e discutimos como o ensino superior pode se transformar para atrair mais estudantes.
No ano em que o Brasil se prepara para sediar a 30ª Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas (COP30), em Belém (PA), o Semesp colocou a sustentabilidade no centro de suas ações para o ensino superior.
O tema também será o eixo principal do 27º Fórum Nacional do Ensino Superior Particular Brasileiro (FNESP), reforçando a importância da educação na formação de profissionais alinhados às demandas ambientais e sociais do futuro.
Todo ano, a entidade que representa as mantenedoras de ensino superior no Brasil reserva um capítulo especial do Mapa do Ensino Superior para um tópico em evidência no debate educacional.
Neste ano, a escolha do tema Cenário e Tendências dos Cursos Relacionados ao Agrossistema era um caminho natural.
O setor tem ganhado protagonismo, impulsionado por inovações tecnológicas, demandas por sustentabilidade e a crescente necessidade de profissionais qualificados para atuar na interseção entre produção agrícola e preservação ambiental.
Agrossistemas são sistemas produtivos que integram diferentes elementos da agricultura e pecuária, conectando o solo, os cultivos, os rebanhos, a tecnologia e a gestão dos recursos naturais. Funcionam como engrenagens interligadas, em que cada componente — desde o tipo de solo até o uso de biotecnologia — influencia o equilíbrio e a produtividade do sistema como um todo.
Diferente do termo agronegócio, que se refere ao setor econômico e comercial do agro, agrossistemas abordam a produção sob uma perspectiva mais ampla, incluindo fatores ambientais, sociais e tecnológicos.
Eles podem ser tradicionais, como pequenas propriedades familiares, ou altamente tecnológicos, como fazendas que utilizam inteligência artificial (IA) para otimizar a produção.
Conforme descrito no relatório, o agrossistema engloba cursos como Agronegócio, Agrocomputação, Ecologia, Meio ambiente, Meteorologia, Energias Tenováveis, Biotecnologia e Ciências Ambientais.
O crescimento desse setor exige profissionais com formações diversas, desde a gestão da produção até o desenvolvimento de soluções ambientais e tecnológicas. Preencher essas lacunas de qualificação é essencial para modernizar a cadeia produtiva.
Em menos de 50 anos, o Brasil deixou de ser importador de alimentos para se tornar um dos principais exportadores de commodities agrícolas.
Hoje, o País já é o maior exportador global de soja, por exemplo, e está em posição vantajosa no comércio com a China, sendo o seu principal fornecedor de produtos agropecuários, o que pode ser ampliado com as taxações impostas pelo governo dos Estados Unidos.
Mas nem tudo são flores. A agricultura brasileira sofre agora com crédito caro e condições climáticas desfavoráveis. Nesse sentido, a tecnologia desempenha um papel importante.
Desde o monitoramento de safras até a gestão da cadeia de suprimentos, a IA está revolucionando como os produtos agrícolas são cultivados, processados e distribuídos.
Esse impacto fica evidente nos US$ 199 milhões investidos em startups de IA no agronegócio brasileiro desde 2018, como informa o relatório IA no Agro, da plataforma Distrito. No cenário global, a tendência é ainda mais expressiva: o mercado de IA para o setor deve atingir US$ 4 bilhões até 2026, de acordo com a MarketsandMarkets
A adoção de IA na agricultura, conforme projetado pela Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO, na sigla em inglês), pode ajudar agricultores a aumentar a produtividade, enfrentar desafios como a saúde do solo e a resistência a herbicidas, além de usar os recursos de forma mais sustentável.
Com sensores no solo, drones no ar e blockchain nos dados, cada etapa da produção ganha rastreabilidade, do plantio à prateleira. Mais do que garantir qualidade, essa tecnologia reforça a confiança do mercado e atende a uma demanda cada vez maior por transparência — tanto de consumidores quanto de reguladores.
Quem mantém essa máquina em movimento? Aí está o desafio. Nos últimos anos, executivos de diferentes setores do agronegócio têm alertado para a escassez de profissionais qualificados.
Além da defasagem em conhecimentos técnicos, muitos apontam a ausência de habilidades comportamentais — as chamadas soft skills —, essenciais para atender às demandas corporativas e acompanhar a evolução do setor.
Por isso, a formação de novos talentos se torna cada vez mais urgente.
Apesar da relevância econômica e de sustentabilidade, o interesse dos estudantes por cursos de graduação relacionados ao agrossistema ainda é relativamente baixo. Apenas 31,1% das instituições de ensino superior (IES) brasileiras ofertam cursos vinculados ao agrossistema.
No que se refere às matrículas, a participação também é reduzida: em 2023, apenas 6,6% das matrículas presenciais foram registradas em cursos relacionados ao agrossistema. Na EaD, esse percentual foi ainda menor, representando apenas 2,3% do total de matrículas.
Para transformar os cursos ligados ao agrossistema em um polo de interesse genuíno para os jovens, as instituições de ensino precisam ir além do básico e apostar em estratégias inovadoras e envolventes. Aqui estão algumas abordagens nada óbvias que podem surpreender gestores educacionais e abrir novos caminhos para a captação de alunos:
Competir, criar e solucionar problemas reais do setor em eventos de imersão, nos quais os alunos, desde o primeiro semestre, são desafiados a desenvolver soluções para gargalos da cadeia produtiva. Empresas do agronegócio podem atuar como parceiras, oferecendo mentorias e, no final, recrutando talentos que se destacam.
Aulas teóricas perdem força diante de um aluno que cresceu no mundo digital. Com realidade aumentada e simuladores de gestão agrícola, os estudantes podem praticar a administração de fazendas em ambientes virtuais hiper-realistas antes de pisarem no campo.
Youtubers, tiktokers e instagrammers especializados no agronegócio têm um público fiel e engajado. Trazer esses criadores de conteúdo para dentro da instituição, seja como convidados, instrutores em módulos específicos ou até mesmo para ações promocionais, aproxima os cursos da realidade dos jovens e os torna mais desejáveis.
Uma plataforma de IA pode mapear o perfil do aluno e sugerir a melhor trilha dentro do setor agro, mostrando as áreas mais promissoras para suas habilidades e interesses. Isso não só aumenta a motivação, mas também reduz a evasão ao alinhar expectativas com o mercado real.
Em vez de apenas ensinar sobre inovação no agro, por que não conectar alunos diretamente com fundos de investimento e incubadoras especializadas? Criar um programa em que os estudantes possam apresentar ideias e receber capital semente para tirá-las do papel gera um senso de propósito imediato.
Currículos engessados afastam os jovens. Inspirado nas plataformas de streaming, o ensino pode ser modular e baseado em microcertificações, permitindo que os alunos acumulem selos de competência conforme avançam. Cada conquista desbloqueia novas oportunidades, criando um efeito de progressão viciante.
Em vez de apenas visitas técnicas, que tal imersões internacionais ou roteiros estratégicos para entender como o agro se conecta globalmente? Parcerias com instituições estrangeiras podem transformar essa experiência em um diferencial competitivo para o aluno.
O Centro Universitário Integrado, de Campo Mourão (PR), tem se destacado como um exemplo de inovação no ensino superior voltado ao agrossistema. A instituição reformulou o currículo de Agronomia, apostando em um modelo semipresencial para atender tanto às necessidades dos alunos quanto às demandas do mercado.
“Aproveitamos a vocação tipicamente agrícola da região para remodelar o currículo de Agronomia. Quando ele foi lançado, tínhamos cerca de 100, 110 matrículas. Hoje, já temos 300 ingressantes”, afirmou Rafael Zampar, diretor de Negócios da instituição, no podcast Gestão do Ensino Superior.
Veja o episódio na íntegra:
Um dos diferenciais desse modelo é a BeAgro, uma vertical que integra educação, inovação e tecnologia para a formação de profissionais do agronegócio.
O ecossistema educacional combina aulas teóricas em uma plataforma digital com encontros presenciais em uma fazenda experimental, onde os alunos aplicam o que aprenderam.
“São trilhas de aprendizagem e aulas com formatos bastante diferenciados. Depois de assimilar esse conteúdo, o aluno vem para a instituição, onde, duas vezes por módulo, passa o dia todo no campus, fazendo aulas práticas”, explicou Zampar.
A tecnologia também foi um pilar fundamental nessa transformação. Segundo Bruno Camara, head de Tecnologia e Planejamento, a adoção de novas ferramentas partiu da necessidade de preparar os alunos para a realidade do mercado.
“Entendemos que a trilha de aprendizagem precisava pensar no contexto que o nosso aluno vai encontrar no mercado de trabalho. Por isso, implementamos novas disciplinas para aprofundar a questão da tecnologia e das competências digitais.”
Além da formação técnica, o Centro Universitário Integrado também investiu no desenvolvimento de soft skills. “Mesmo em cursos como Agronomia e Tecnologia em Análise e Desenvolvimento de Sistemas, o aluno não adquire apenas capacitação técnica, mas também uma série de habilidades comportamentais e de gestão de pessoas”, destacou Zampar.
A transição digital da IES foi acelerada pela parceria com a Plataforma A, que ofereceu soluções integradas para facilitar o ensino híbrido. “Esse modelo promove a verdadeira transformação digital, já que não restringe um conteúdo ao ensino presencial ou à EaD. Quando utilizamos as ferramentas de forma institucional, fica mais fácil trazer o professor para dentro do processo”, afirmou Daniela Hauser, gerente de Negócios da edtech.
Para superar a resistência à adoção de novas tecnologias, o Centro Universitário Integrado apostou em um grupo de disseminadores — professores que abraçaram as mudanças tecnológicas e passaram a ajudar seus colegas no processo de adaptação.
A estratégia tem gerado resultados promissores: “Ficamos surpresos com a quantidade de estudantes explorando os objetos imersivos e laboratórios virtuais, mesmo antes de fazermos um esforço para fomentar essa utilização”, concluiu Zampar.
Por Redação
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